domingo, 14 de agosto de 2011

A morte do pé de manga




Na residência da minha avó existia até a semana passada um pé de manga. O último exemplar da frondosa fruteira anunciou a sua própria morte há alguns anos e sucumbiu de vez levando a minha querida avó a uma comovente tristeza na última segunda-feira.


Ao presenciar a descida de suas lágrimas pela sua face e os seus marejados olhos fiquei imaginando como o tempo é implacável, afinal todos os seres vivos morrerão um dia para a tristeza de todos aqueles que tiveram histórias escritas e, no caso do pé de manga, embaixo de sua enorme e contagiante sombra.


No mês de Outubro não teremos mais o cheiro delicioso da fruta, o barulho aconchegante das folhas e a deliciosa brincadeira de catar as pequenas sementes que por obra do acaso não cresceram ao ponto de serem degustadas.


Nesse momento, o quintal verde deu lugar a uma cinzenta pista de cimento, onde a vida natural abriu de maneira forçosa espaço ao concreto duro, sem vida e extremamente quente.


Não temos mais a companhia verde daquela velha senhora, mas guardaremos as lembranças de amores, paixões, brigas, desencontros e conquistas que tiveram os seus galhos como testemunhas.  .


Os doces feitos com as frutas colhidas do pé, que tanto orgulho deram a todos nós, darão espaço a contragosto, aos industrializados fazendo da tarde ao redor da mesa para a degustação nunca mais ser a mesma. A saudade do cheiro natural emanado do jardim se foi. 


A sensibilidade da minha avó em reconhecer no corte definitivo de uma árvore algo grandioso na sua vida me faz refletir, afinal diante dos dias de extrema competição em que vivemos nada melhor do que uma sábia mulher para ensinar o amor pela vida através da despedida de uma fruteira.


 Cláudio Andrade



   



2 comentários:

Anônimo disse...

Claudinho,no diminutivo mesmo, já vi várias árvores morrerem,todas com história pra contar;vi meu avô morrer,avô por consideração e muito amor, vi meu pai morrer...vi colocarem fogo no canavial na época da revolução de 1964...
...em compensação vi minha filha nascer, crescer e me dar netos;tenho idade pra ser sua mãe, desejo que viva para ver seus netos. 1 bj pelo Dia dos Pais
Vera Cardoso

Vania Cruz disse...

Linda a sua crônica. Gostei tanto, tanto. As velhas árvores guardam histórias, quase sempre inesquecíveis.Parabéns pelo texto,repito.