domingo, 14 de setembro de 2008

FOLHA DA MANHÃ: ENTREVISTA COM ROSINHA GAROTINHO.

Folha da Manhã — Gostaria que a senhora avaliasse essa fase da campanha, tendo como referência a pesquisa registrada e divulgada que foi a do Ibope, da Inter TV Planície.

Rosinha Garotinho — Para mim o resultado da pesquisa foi muito bom. Até a data da pesquisa, eu tinha dois meses de campanha e isso veio mostrar publicamente que a candidatura que existia como a favorita não é verdade. Nessa reta final, agora, quando o eleitor começa a se decidir, existe ainda um percentual de 20% ou em torno disso de indecisos. Nessa reta final as pessoas vão prestar mais atenção nas propostas que cada um tem e nós temos uma proposta para Campos e temos apresentado isso. Nos programas de televisão, comícios, reuniões, meu próprio programa (de governo) que entrego pessoalmente.

Folha — Para trabalhar mais esse número de indecisos, a senhora deve apostar mais em que? Comícios, caminhadas?

Rosinha Garotinho — Faço tudo. Caminho, eu faço comícios, gravo programas eleitorais, faço reuniões. Nem todo mundo assiste programa eleitoral, nem todo mundo vai a comício. Às vezes o aperto de mão muda o voto. Quando você pára, conversa, encontra com pessoas indecisas nas ruas, elas se manifestam. Então, no contato pessoal a gente também vira o voto. Tudo é importante.

Folha — Como é ser a candidata de Garotinho e, ao mesmo tempo, mantê-lo longe, tentar “esconder” a grife Garotinho?

Rosinha Garotinho — Não escondo o Garotinho de meu nome. No Rio de Janeiro, eu precisei ser conhecida. Porque o conhecido era ele. Então usei o nome Garotinho e seu governo havia sido tão bom que ele fez a sucessora dele, que fui eu. Aqui em Campos, creio que nenhum cidadão tem dúvidas com quem eu casei. Eu não tenho nenhum interesse de esconder o Garotinho de meu nome, porque todo mundo sabe que ele é meu marido. Vou fazer 27 anos de casada, vivi nessa cidade a vida inteira.

Folha — Mas a própria ausência dele da campanha não mostra que a coisa caminha para um desgaste dele?

Rosinha Garotinho — De forma alguma. Nós temos uma empresa no Rio de Janeiro de catálogo porta a porta. Tipo Avon, nós temos de produtos cristãos. E tenho uma filha que é candidata no Rio. E Garotinho precisa tomar conta da empresa. Eu trabalhava na empresa, Clarissa trabalhava na empresa, Vladimir trabalhava e ele trabalhava. Eu vim para cá ser candidata, Clarissa saiu porque é candidata, Vladimir veio para ficar comigo. Ficou só ele na empresa. Eu estava gerenciando a empresa. A empresa é nossa. Ele tem que tomar conta. É de lá que eu vivo.

Folha — Mas a senhora é capaz de prescindir dessa liderança de Garotinho em Campos?

Rosinha Garotinho — Mas eu não estou prescindindo da liderança dele. Muito pelo contrário. Acho que Garotinho é uma pessoa que tem muita experiência, foi prefeito duas vezes, foi deputado, já foi secretário de Estado, ao ponto de Lula tê-lo convidado para ser ministro, ele é que não quis.

Folha — Mas ele não tem aparecido em momento nenhum.

Rosinha Garotinho — Ele tem aparecido sim. No meu programa eleitoral de ontem (quarta-feira), ele aparece lá de mãos dadas comigo e todo final de semana ele está aqui. Faz reuniões para mim e enquanto eu estou para um lado, ele está para outro.

Folha — Ele já chegou a gravar depoimento para a senhora?

Rosinha —
Ainda não, mas nós temos alguns pela frente.

Folha — A senhora usou a experiência dele em dois momentos distintos no seu governo: como secretário de Segurança Pública e como secretário de Governo. Coincidentemente, surgiram nessas duas áreas do governo da senhora problemas específicos, que resultaram nas operações Segurança Pública S/A e Pecado Capital. A senhora disse em um programa de entrevistas que ele “seria o que quisesse” em seu governo. A senhora pensa em aproveitar Garotinho especificamente em alguma área?

Rosinha — Só se ele não desejar. Eu acho que ele vai tomar conta de nossa empresa. Mas eu não discuto secretariado antes de ganhar a eleição. Mas se ele desejar ocupar algum cargo, eu não vou abrir mão da experiência que ele tem.

Folha — A senhora diz que não abre mão da experiência de Garotinho e que Campos inteiro sabe do casamento de vocês, o que é claro. Mas por que, então, seus advogados entraram como o pedido para retirar o nome dele nas urnas eletrônicas?

Rosinha Garotinho — Foi algo que o próprio jurídico fez. Eu não tinha co-mo retirar todo meu material de campanha colocado na rua em 72 horas. A gente teve que recorrer. Primeiro porque seria um prejuízo enorme, quem iria bancar todo meu material de novo de campanha? E também não haveria tempo hábil em 72 horas. O jurídico que entendeu que poderia ter que tirar, também, de lá (urnas). Não pedi aquilo e até pedi para não levar à frente. Aliás, eu soube pelo jornal. Foi uma iniciativa do próprio jurídico. Dei uma procuração para o jurídico, eles entenderam que, para garantir a propaganda na rua, teria que tirar da urna. Não vejo nenhum problema.

Folha — Como governadora, a senhora foi responsável por algumas das intervenções pontuais que estão em andamento, como a questão do setor de estaleiros, da indústria naval. E o Estado do Rio vive um momento curioso que é da expectativa do pré-sal. Como a senhora acha que seria capaz de inserir Campos neste contexto e, ao mesmo tempo, com o perfil que Campos tem de ser um dos maiores arrecadadores de royalties de gerar emprego e renda?

Rosinha Garotinho — Como governadora, lutei muito pelo Estado do Rio. Lutei por uma refinaria na região, mas Lula anunciou em Itaboraí. E isso só foi possível porque eu fui contra o oleoduto. Eles queriam passar o oleoduto e passar todo o petróleo para São Paulo. Não veio para a região que eu queria, mas veio para o Estado. Eu ainda acredito que Campos tenha espaço para uma refinaria. E hoje a Petrobrás anuncia que tem espaço para cinco.

Folha — Seria uma luta que a senhora trabalharia...

Rosinha — Trabalharia, como a luta da pré-sal. Quem mais lutou na questão da origem e destino de onde é pago o petróleo, diferente de outros como álcool e minério, fui eu. Claro, fui voto vencido porque o presidente Lula entendeu diferente. E a pré-sal é justamente para o Estado do Rio poder perder. Por que querem fazer uma nova estatal? Por que não acompanhar a legislação do petróleo que já existe? Por que querem fazer com que o estado do Rio perca? Então tem que distribuir para todos os municípios do Brasil os royalties do minério, do álcool, de tudo. Por que só do petróleo? Mas isso é uma luta. Não é ação direta da Prefeitura. E por que não tiraram ainda os royalties do petróleo daqui? Porque quando Garotinho foi governador e ele fez a renegociação da dívida do Estado com a União, ele deu como garantia os royalties do petróleo e o Banco Central não aceita mais abrir renegociação das dívidas dos estados com a União. E se abrir para o Estado do Rio, vai abrir precedência. Se não, já teria tirado.

Folha — Essas são observações no campo macro. O que se pode fazer realmente para gerar emprego e renda?

Rosinha — Quando eu era governadora, trouxe para Campos, em Barra do Furado, um porto e um estaleiro do lado de lá de Quissamã. A única coisa que ficou para a Prefeitura fazer era dragar o canal. Não dragaram, os empresários não vieram. Nós temos que retomar esse projeto. Quem trouxe a Schulz fui eu, que já tem lá seus empregos, está na quarta unidade com capacidade de ampliar os empregos. O que a Prefeitura tinha que fazer? Qualificar mão-de-obra. Não só para empresas já existentes, mas para aquelas que não vieram. Tenho ido a algumas empresas e a maior dificuldade de alguns empresários hoje é a mão-de-obra qualificada. Então nós temos que fazer parcerias por setor para qualificar a mão-de-obra. Mas não é só gerar emprego, é garantir que o emprego fique ali. Porque se essas empresas começam a fechar portas, elas iriam demitir todo mundo. Bacia leiteira, a única Parmalat do Brasil que não fechou foi aqui da região. Do Brasil não, do mundo. Porque nós, no Governo do Estado, fizemos uma intervenção. Já pensou se todos os pecuaristas não tivessem mais para onde oferecer o leite? Então, o Poder Público tem que ter sensibilidade no momento. Agora, na Prefeitura, temos que regionalizar também Campos, porque cada região é diferente uma da outra, começar a atrair. Existem pesquisas nas universidades e a gente tem que criar um fundo de pesquisa para buscar o conhecimento universitário para o desenvolvimento local e a qualidade de vida. A gente tem que começar a gerar emprego desde o campo até os empregos mais modernos, com tecnologia. E nisso Campos também está atrasado e isso a gente pode fazer através do Fundecam porque existe recurso para isso.

Folha — Falando em programa de governo, a senhora incluiu nele a passagem de ônibus a R$ 1 de qualquer ponto de Campos. E esse custo, quem é que vai pagar?

Rosinha Garotinho — Existe um projeto, que inclusive em Cabo Frio já funciona, que quanto mais passageiro você tem na linha de ônibus, mas a passagem barateia porque isso é feito pela média. Então, é um estudo técnico muito bem feito que em Cabo Frio já está funcionando e aqui em Campos irá funcionar também.

Folha — Mas pela extensão territorial de Campos, que é muito maior de Cabo Frio, a passagem de Campos a Farol, por exemplo, a R$ 1, vai ficar caro para a Prefeitura.

Rosinha —
Mas mesmo com a extensão territorial de Campos, os ônibus hoje circulam vazios.

Folha — Circulam vazios muito em função dos trabalhos das vans com passagem R$ 1. A essa altura teria sentido essa ação?

Rosinha — Tem sim, o perfil hoje de quem pega van é diferente de quem pega ônibus e de quem pega táxi. O que tem que fazer com as vans é legalizar, criar critérios, linhas alternativas por que existe espaço para todo mundo.

Folha — Mas você acha que as vans podem competir com as passagens a R$ 1?

Rosinha —
Vão, já tenho conversado com os setores, eles já entenderam.

Folha — Seria também a R$ 1 ou não?

Rosinha — Não, eles vão colocar o preço que quiserem, o que vai determinar os preços vai ser o critério quando a gente montar com eles. Eu acho que tem espaço para todo mundo, acho que tem linha circular que hoje não existe e que as vans podem fazer. Vamos apresentar aos empresários o estudo técnico, todo moldado, e que tenho certeza que será bom para todo mundo. E ainda para o transporte alternativo nós podemos dar um diferencial porque, legalizado, eles vão passar a pagar o ISS. A compensação para a passagem de ônibus ser R$ 1 e a deles um pouco mais cara é o imposto. A gente pode dar um diferencial para eles.

Folha — Notadamente. Campos vem registrando um número crescente de emplacamentos, e apesar de algumas intervenções que vêm sendo feitas, como perimetrais, o desenho é praticamente o mesmo. A senhora como governadora realizou uma mega-intervenção no trânsito de Campos que foi a ponte que liga Guarus ao Centro. Alguns estudiosos dizem que a ponte até contribuiu para aumentar o fluxo de veículos na área central. O que um eventual governo da senhora pretende fazer ate rediscutir a questão da ponte, se for o caso, e desafogar o trânsito?

Rosinha — Campos tem alguns gargalos, não é o trânsito todo da cidade que é ruim. E esses gargalos precisam ser feitos. Um deles é a 28 de março com Beira Valão. Li que cabe um viaduto perfeitamente sem atrapalhar. Ali perto da estação de trem, próximo a Alberto Torres. Não foi a ponte que criou o problema para Campos, muito pelo contrário. Nós vamos s criar uma nova engenharia do tráfego e buscar o que há de mais moderno, como por exemplo, o Jaime Lerner em Curitiba. E quero fazer uma sala de monitoramento de trânsito.

Folha — Seria uma espécie de resgate, no caso do Centro, porque a senhora como governadora, em diferentes momentos, fez diversas cobranças para que tivessem essas câmeras de segurança.

Rosinha — É verdade, não tive tempo como governadora e acho que possível através de uma parceria.

Folha — Voltando à questão da geração de emprego e das parcerias, como a senhora vê o fato de o governador Sérgio Cabral, que é de seu partido, e Garotinho, presidente do PMDB regional, não comungarem já há algum tempo das mesmas idéias, assim como acontece com Lula? Como a senhora, eleita prefeita, pretende resgatar essa parceria com o presidente Lula e com o governador Sérgio Cabral? A senhora acredita que tem capacidade de fazer uma interlocução até mais eficiente do que Garotinho?

Rosinha — Quando nós formos eleitos, a questão partidária tem que ficar de lado. Vocês mesmo noticiaram que eu saí do Rio de Janeiro como governadora e vim a Campos procurar o prefeito Mocaiber, porque a Schulz os empresários não conseguiam ter acesso e sequer ser atendidos pelos secretários deles. Pedi uma audiência ao prefeito para que atendesse, porque quando a Schulz veio para Campos eles descobriram que tinha o Fundecam e também queriam ser beneficiados pelo Fundecam. Eu acho que as questões partidárias têm que ficar de lado depois que você se elege, e lutar pela sua cidade, pelo seu estado, pelo seu país. Eu não vou me furtar hora nenhuma de sentar junto com outras autoridades. Ate porque o vice-governador Pezão já declarou que fará parcerias.

Folha — A senhora participou muito da campanha de Sérgio Cabral.

Rosinha —
Participei muito.

Folha — A senhora se ressente?

Rosinha Garotinho — De forma alguma. Eu prefiro ter crédito. O débito não é meu.

Folha — A imprensa nacional noticiou há algum tempo que a senhora tinha um projeto de se candidatar ao Senado em 2010. Esse projeto está de pé?

Rosinha Garotinho — Não, isso foi coisa da imprensa. Eu tive a oportunidade de me candidatar ao Senado se saísse em março do meu governo. Eu não quis. Preferi cumprir meu governo até o final.

Folha — E o projeto de Garotinho de se candidatar ao governo do Estado em 2010?

Rosinha Garotinho —
Pode ser um projeto, mas tem muita água para rolar.

Folha — Estamos em final de 2008 já.

Rosinha —
Mas tem muita coisa. Temos uma eleição municipal pela frente.

Folha — Mas passa pela eleição municipal o projeto dele de candidatura?

Rosinha —
Não, de forma alguma.

FONTE- FOLHA DA MANHÃ


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