terça-feira, 16 de setembro de 2008

FOLHA DA MANHÃ ENTREVISTA ARNALDO VIANNA.

Folha da Manhã – Como a campanha do senhor se encontra neste momento, inclusive, sofrendo ou não o impacto do indeferimento de seu registro de candidato pelo TRE, como ocorreu em 2006?

Arnaldo Vianna – Eu fico muito tranqüilo, porque isso é sinal de que eu vou ganhar as eleições. Eles fizeram o mesmo, para deputado federal, em 2006, quando concorri sob efeito de uma liminar. O povo votou, e eu fui eleito o mais votado de Campos. Mesmo com o governo do estado se transferindo para cá para fazer a campanha do candidato dele.
Folha – A campanha se mantém, então, em um ritmo normal.

Arnaldo – Isso me estimula cada vez mais. Isso estimula e o povo já está entendendo a covardia. São pessoas que, na linguagem do futebol, não gostam de ganhar no campo, gostam de ganhar no tapetão. Sabem que se forem disputar voto a voto, vão perder. Até porque eles apostarem todas suas fichas naquele nome que seria mais viável do lado deles. Uma pessoa que já foi governadora do estado, e vem para Campos disputar eleição para prefeito, eles apostaram todas suas fichas nisso. E perder, numa situação como essa, é uma derrota muito grande.
Folha – Você considera que pela pesquisa do Ibope, a única divulgada, a campanha se afunilou entre você e a Rosinha Garotinho?

Arnaldo – Não, eu acho que está afunilada, mas não vejo isso como a influência de um resultado de pesquisa. Eu vejo como influência da participação do candidato. O que a gente vê é uma campanha muito intensa dessas duas candidaturas.
Folha – Em face disso, a eleição seria só em primeiro turno?

Arnaldo – Eu tenho dito há algum tempo. Eu acho que a eleição será decidida em turno único. Não estou aqui falando do resultado, espero que eu seja o vencedor e tenho confiança nisso.
Folha – O comportamento das outras candidaturas contribui para a projeção de um turno só?

Arnaldo – Exatamente. A eleição está muito polarizada no município de Campos. E o que a gente tem visto nas ruas é isso.
Folha – Então, para isso, qual a melhor estratégia, nesta fase?

Arnaldo – É gastar muita sola de sapato. Até porque se você olhar a questão dos programas eleitorais você atinge uma faixa do eleitorado, não a ele como todo. Nos spots (inserções comerciais) você pode atingir mais, porque a pessoa é pega de surpresa. Mas o programa eleitoral em sim, não chama tanta atenção.
Folha – A estratégia que o PMDB tem passado na campanha é que você não pode ser candidato. Até que ponto isto o prejudica?

Arnaldo – Eu já enfrento isso em algum tempo, isso aconteceu em 2006. E eu sou deputado federal. Eles tentaram essa estratégia o tempo todo. Quando eles dizem que eu não posso ser candidato, eu faço uma pergunta: se eu não pudesse ser candidato o Tribunal Eleitoral permitiria a edição de meu programa na televisão e na rádio?
Folha – Você acredita na reversão do indeferimento do registro?

Arnaldo – Com certeza, eu confio na Justiça. Relativo às contas, o problema realmente que existia, nos defendemos. Aqui na Câmara conseguimos derrubar o parecer do Tribunal de Contas do Estado. E no Tribunal de Contas da União, eu estive lá, e falei, e vou reafirmar o que falei lá: fiz e faria de novo. Eu não iria prejudicar o meio ambiente por conta de um projeto equivocado, em que lançava o esgoto in natura em um manancial hídrico.
Folha – Na eleição de 2004 e 2006 você disse que gostaria de enfrentar Garotinho. Você disputa com Rosinha. Se frustrou com isso?

Arnaldo – Quando eu falei isso, foi de coração mesmo, porque ele acha que é o dono da cidade. E eu queria a oportunidade de mostrar a ele que quem é o dono da cidade não é ele, é Deus, em primeiro lugar. E depois, quem recebe a delegação de Deus para tomar conta da cidade, o povo. E através do povo são eleitos seus representantes. Ele tem que parar com essa mania que ele é o dono de tudo, da cidade, da igreja.
Folha – Os seus adversários exploram o desgaste gerado pelo afastamento do prefeito Alexandre Mocaiber, na operação Telhado de Vidro, o candidato que você apoiou em 2006. Isso o afeta?

Arnaldo – Em absoluto. Até porquê que não fiz parte do governo de Mocaiber. O Mocaiber é o meu amigo, somos amigos desde a infância. Ele se elegeu prefeito, mas eu não tive cargo no governo dele. Depois eu fui candidato a deputado federal e me elegi. Relações administrativas eu tive quando eu fui prefeito e, ele, meu secretário de Saúde.
Folha – Você não teria responsabilidade direta pelo governo dele...

Arnaldo – O povo de Campos sabe. Quando Alexandre foi prefeito eu não fui secretário dele, exerci apenas minha função de médico, trabalhando no hospital dos Planta-dores de Cana, na Santa Casa. Depois eu fui candidato a deputado federal, assumi meu mandato e agora sou candidato a prefeito. Não tive nenhuma participação no governo. Embora, como amigo dele, nas oportunidades que tive de me encontrar, dava minhas opiniões, que poderiam ser acatadas ou não.

Folha – O que dizia a Mocaiber?

Arnaldo – Eu dizia para eles as questões que a gente deveria trabalhar. E falava para ele que o maior inimigo do administrador público, seja prefeito, governador ou presidente da República, é o gabinete. Quando você fica cercado de alguns assessores que não deixam você escutar a opinião do povo. Eu acho que isso acontecia no governo do Mocaiber e foi uma coisa que eu disse a ele: procure sair do gabinete, ir ao encontro do povo, saber sua opinião. Escute apenas a opinião de alguns assessores, porque eles não representam a média da população. E além disso, porque alguns assessores têm interesses apenas pessoais e não interesse público, nas questões da Prefeitura.
Folha – Entre os assessores de Mocaiber, há um que trabalhou em seu governo e no dele, o ex-procurador Alex Pereira Campos.

Arnaldo – Há vários outros, não só o Alex, que trabalharam no meu governo. Várias outras pessoas do governo Mocaiber trabalharam em meu governo. O doutor Alex é um deles, e trabalhou no meu governo. Naquele momento ele foi procurador, como foi procurador no governo Carlos Alberto Campista e depois procurador do Mocaiber. Assim como o doutor Edilson Peixoto trabalhou no governo de Zezé Barbosa, trabalhou no governo de Sérgio Mendes, no governo de Garotinho, trabalhou no governo de Arnaldo. Então, tem pessoas que passam pelos governos pela competência.
Folha – O que você quer dizer claramente é que é responsável só por seu governo?

Arnaldo – Exatamente. Existem pessoas que têm um comportamento dependendo do comando. E se você exerce determinada função, e o comandante orienta, aponta um caminho, aqueles que trabalham juntos vão seguir aquele caminho. Se o comandante não aponta esse caminho, se omite ou libera para que cada um siga seu caminho... O que eu acho que foi o que aconteceu no governo Mocaiber, e que era uma das coisas que eu criticava.
Folha – Você é um político de enfrenta-mento, e até por isso sobreviveu... Mocaiber não foi assim?

Arnaldo – Eu aprendi numa frase... Uma vez eu ganhei um quadro, de uma pessoa que sempre admirava, um médico, que depois se tornou uma figura política internacional, com uma frase que ele pronunciou, que dizia “hay que endurecer, pero sen perder la ternura jamás”, do Che Guevara. Você pode ser amigo, você pode usar o amor, mas em determinado momento você tem que ser firme, você tem que ser duro. O administrador tem que saber dizer o sim, saber dizer o não. Quando o ad-ministrador só diz sim, alguém perde, e quando diz só não, alguém perde também. Tem que ter equilíbrio.
Folha – Como médico, o que pensa para a Saúde?

Arnaldo – Eu tenho uma visão de saúde diferente da visão da doença. A questão da saúde passa por vários setores do governo, não só a secretaria de Saúde, não só os hospitais. Ela passa pela Educação, desde o momento que através da Educação você passa a praticar saúde preventiva. Ela passa pelo saneamento básico. No momento em que você galerias de águas pluviais, uma rede de esgoto, com esgoto tratado, você está promovendo a saúde. O conceito de saúde é muito amplo. Mas, temos que resolver inicialmente o Programa da Saúde da Família, um instrumento público, que tem quer ser resolvido em curto prazo. A questão dos nossos hospitais. Vê como funciona hoje o Ferreira Machado, o Hospital Geral de Guarus. O Hospital Geral de Guarus foi construído por mim, e acho que ele precisa ampliar o tipo de atendimento.
Folha – Não só segmentado e sim também com atendimento geral?

Arnaldo – Exatamente. Para atender todo aquele outro lado do rio Paraíba. Acho que esse é o papel que o Hospital de Guarus tem que fazer. Construir nos mesmos moldes do Hospital de Guarus o Hospital da Baixada. O Hospital São José tem um relevante serviço prestado, mas ele precisa sofrer uma intervenção. Ou seja, construir um novo hospital. O Hospital de Travessão foi construído por minha administração em parceria com os Plantadores de Cana. Resolver também a questão do mini-hospital de Santo Eduardo, de Morro do Coco. Dar a eles realmente condições de resolutividade, para que possam ser considerados hospitais regionais. Porque aí vamos entrar em um plano, que é até minha defesa de tese, pela Fundação Getúlio Vargas, que é a implantação dos distritos sanitários.
Folha – Você falou da questão do PSF. Como você vai enfrentar a questão dos terceirizados?

Arnaldo – É preciso ver que tipo de contrato era este, se era emergencial, uma prestação de serviço no nível precário, como era isto. Porque a lei é muito clara. Havia a previsão de realizar concurso público? Eu acho que o caminho é este, porque se eles estão ali é porque alguma necessidade existia. Em existindo a necessidade, que se faça da forma legal, que ao meu ver, é a realização de concurso. Garante o retorno dos terceirizados e marca o concurso. Se isso for feito agora, ótimo, se não for feito, em 2 de janeiro, uma das primeiras atitudes minhas, eu eleito prefeito, é resolver essa questão.
Folha – Mas, de qualquer forma é temerário assumir uma maquina administrativa com menos 15 mil pessoas? Você teme o colapso?

Arnaldo – Não, não temo. Por que eu não temo o colapso? Porque eu fui forjado dessa forma, a minha vida na política administrativa foi assim. Quando eu assumi a Prefeitura, eu assumi na condição de vice, com a renúncia de Garotinho. E assumi a Prefeitura em estado de caos, não tinha um tostão em caixa e com todo o Orçamento comprometido. E eu consegui dar conta. Então fui forjado dessa forma, sabendo administrar na dificuldade. E aí, eu até me lembro, quando eu estava fazendo um curso de Gestão Municipal na Fundação Getúlio Vargas, tinha um módulo do curso que era Gestão de Conflitos. Eu aprendi muito isso na prática, e depois na parte teórica. Basta que você não se esconda, não omita a verdade, esclareça tudo de início, fazendo amplo diagnóstico. Tal como na profissão, quando você faz o diagnóstico, você o apresenta e apresenta a proposta terapêutica.

Folha – Você criou em seu governo o Fundecam, um instrumento ainda em uso hoje para gerar empregos e renda. O que é possível fazer mais nesta área?

Arnaldo – É, eu criei e não foi uma idéia apenas do Arnaldo. Tínhamos encontros com a CDL, com a Acic, com a Carjopa, e a partir daí se surgiu a idéia de criar um Fundo de Desenvolvimento. O professor Aluysio Barbosa falava sobre isso, com a preocupação do desenvolvimento e dos royalties. O Fundecam tem cumprido o seu papel de atrair novas indústrias. A Schulz veio através do Fundecam no governo Mocaiber. E a propaganda do outro candidato fica dizendo que trouxe a Schulz. Agora nós temos que ampliar essa questão. Uma das críticas feitas ao Fundecam é que o Fundecam serviria para grandes empresas. Mas nós queremos ver os pequenos também, os que hoje vivem na informalidade. É a doceira, a costureira. Temos um campo enorme. E aís nós nos reportarmos ao Banco do Povo que existia na secretaria de Promoção Social. O que nós podemos fazer é um braço do Fundecam para atender também a este outro setor, para dar oportunidade aos pequenos e também ao comércio. Você pode alterar a legislação do Fundo ou você pode reativar o Banco do Povo. E aí é você ver qual movimento será mais ágil para que a resposta venha de imediato.
Folha – As pessoas levantam a questão de Garotinho em um governo da Rosinha, como também falam da influência de sua ex-mulher, Ilsan Vianna, em uma possível gestão sua. Indicaria ela para algum cargo?

Arnaldo – Em meu governo Garotinho não teria papel nenhum. Eu não vejo ele para ocupar qualquer secretaria de meu governo, porque ele não tem compromisso com o povo. Já a Ilsan, em meu governo, ela teria participação. Lógico, se ela não se elegesse vereadora, que acho que ela vai ser eleger, mas no meu governo teria participação. Como teve no governo de Garotinho. Porque eles convidaram a Ilsan para ser presidente da Fundação Trianon? A primeira nomeação de Ilsan para a Prefeitura foi de Garotinho, antes do Trianon existir, para ela poder já ir participando do projeto. No meu governo ela continuou no Trianon. Depois de cumprida essa etapa, ela foi para a secretaria de Planejamento. Pela posição de primeira-dama, ela assumiu na época a presidência da Apic, como a Rosinha Garotinho tinha sido, como a dona Zaíra já tinha sido, como todas as primeiras-damas. Não vejo dificuldade, mas acho que a Ilsan vai cumprir seu papel na Câmara como vereadora, eu acredito na vitória dela. Mas não teria menor constrangimento em nomeá-la. Mas com certeza, não nomearia Garotinho para o meu governo.


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