quarta-feira, 17 de setembro de 2008

FOLHA DA MANHÃ ENTREVISTA COM PAULO FEIJÓ.

Folha da Manhã — Você foi candidato em 2000, 2004 e 2006 e agora novamente se lançou. O que o motiva a isso?

Paulo Feijó – Me lancei candidato a prefeito para preencher um espaço que considero fundamental para o futuro de Campos: a mudança. Esses dois grupos eles já obtiveram todas as oportunidades nestes últimos anos, e os resultados não apareceram. Nossa cidade vive uma crise, a maior da história, social, econômica, moral, ética. Então é a hora da mudança. Sinto que meu nome incorpora isso.
Folha – Você chegou a ter seu nome trabalhado para ser candidato a vereador, dentro de seu grupo. Hoje, você está satisfeito em ter escolhido ser candidato a prefeito?
Feijó – Com certeza, agradeço muito a Deus por ter tido coragem de ter aceitado esse desafio. Essa questão do vereador aconteceu da seguinte maneira: Passei pela aquela tragédia de 2006, quando fui acusado de ter recebido R$ 30 mil na minha eleição de 2002. Isso foi no calor daquela eleição presidencial. O cara quando é correto, como eu sempre fui e serei, foi um fato desse me abalou muito.
Folha — Você fala da CPI das Ambulâncias...
Feijó – Do envolvimento do meu nome na CPI das Ambulâncias. Esse fato realmente me abalou. Naquele momento você vê que eu não disputei uma eleição que eu tinha já praticamente garantida. Eu ia ter ali mais de 100 mil votos tranqüilamente. E naquele momento, eu achava que eu nunca mais ia falar em política, que não ia querer saber disso. A gente que tem o dom da política, a vocação, o espírito público... O tempo foi passando e aí eu voltei para o jogo humildemente colocando meu nome para vereador para ser avaliado. Só que a coisa pegou bem e foi ali que comecei a voltar para o processo político. Quando chegou mais ou menos em junho, senti que havia esse espaço para a Prefeitura. Tinha aquela questão da terceira via, emplacando um nome novo, que nunca tinha sido testado nas urnas, eu vi que aquilo não daria certo. E realmente não daria, hoje falo com toda certeza, que seria uma aventura desastrosa para o PSDB. Então não restou alternativa ao partido, a não ser a minha candidatura para prefeito e hoje estou satisfeito, muito feliz. Porque estou tomando uma medida corajosa, de amor verdadeiro a Campos, e oferecendo aos campistas a alternativa de uma moralização na política da cidade.
Folha – Você se apresenta como mudança a duas candidaturas que polarizam a campanha e lideram isoladamente o processo, segundo a pesquisa Ibope. Quais são as suas expectativas para esta reta final?
Feijó – Falar em pesquisa agora é chover no molhado. Campos vive a maior crise política da história, como eu falei. Não tem como fazer pesquisas políticas, porque a gente não sabe o que vai acontecer em Campos amanhã. Eu vou dar exemplos. Arnaldo Vianna está impugnado pelo TRE, ele recorreu. Acho que ele vai ser impugnado também pelo TSE. Ele sendo impugnado, sai do jogo. Do outro lado, do lado de Garotinho. Álvaro Lins está preso, foi chefe de Polícia Civil de Garotinho e Rosinha durante oito anos. Ele não está preso à toa, ele não foi cassado de brincadeira. Já pensou se Álvaro Lins aceitar a delação premiada? Isso pode interferir no processo eleitoral em Campos. Então, eu acho pesquisa eleitoral neste momento “forçassão de barra”. É que existem segmentos que querem polarizar porque não querem a mudança. Campos está loteada. Ela vive sob domínio de determinadas milícias. Só que as milícias aqui não estão matando no tiro. Elas matam na falta de seriedade com a coisa pública. Estas correntes não querem que mude, aí então elas fazem essa “forçassão de barra” para passar o terror para o eleitor de quem vai ganhar é um ou outro.
Folha – Mas é uma pesquisa registrada, com lastro, fundamentada...
Feijó – É, por exemplo, eu não acredito, Macaé foi o mesmo Ibope. Ibope hoje não é o Ibope de antigamente. Essas pesquisas são sérias mesmo na última semana. Eu não me baseio em pesquisa. Tanto que, eu mesmo, na eleição de 2004, era disparado o favorito nas pesquisas, em todas elas, e de repente perdi a eleição. O próprio Ibope fez uma pesquisa em Macaé que não foi publicada por diversas irregularidades. Hoje o balizamento por pesquisas não me impressiona.
Folha – Você em 2004 tinha mais densidade e visibilidade eleitoral?
Feijó – É, mais hoje estou mais satisfeito com a minha campanha. Em 2004, eu sai na dianteira e enfrentei duas maquinas muito poderosas, e estas máquinas na reta final foram crescendo para cima de mim em função daquele abuso de poder econômico. A justiça eleitoral não atuou naquela eleição. E agora, não, eu fiz uma campanha muito mais tranqüila, onde eu não tenho problemas. Quem tem problemas sérios são os meus adversários.
Folha – Você acredita no alijamento do processo de um nome ou de outro?
Feijó – Tranquilamente, e não só nisso. Primeiro, aposto no crescimento de minha candidatura, porque vejo muito claramente o sentimento de mudança, nas ruas. Mas eu acredito também na mudança das candidaturas, que isso vai acontecer até o final deste mês. Isso vai interferir diretamente neste resultado, por isso é prematuro fazer pesquisa agora.
Folha – Você citou a tragédia de 2006, a CPI das Ambulâncias, como o processo está agora e isso afeta sua campanha?
Feijó – Eles alegam que eu recebi R$ 30 mil, é mentira. Tive meus sigilos fiscal, telefônico e bancário quebrados, nada encontraram e não vão encontrar nada. Houve uma fiscalização muito rigorosa. Poucos políticos do Brasil resistiriam a uma investigação tão rigorosa como essa a que eu resisti. Mas eu perto dessa turma de Campos, perto de Arnaldo, perto de Garotinho, perto de Rosinha, perto de Mocaiber, sou anjo, tenho que ir pro céu. Esses sim não resistiriam a 10% de uma fiscalização dessas. Tenho 20 anos de vida pública e esse foi o único deslize que eles alegam que eu tenha dado. Hoje eu agradeço a Deus, porque aprendi muito com todo esse sofrimento. Mas eu sou santo perto desses políticos que estão aí.
Folha – Você se diz uma alternativa de mudança, mas você apoiou a eleição de Carlos Alberto Campista, esteve perto do governo dele, apoiou a eleição de Alexandre Mocaiber e participou do governo dele. Na interinidade de Roberto Henriques, você apoiou o governo dele. Acha que o eleitor não se confunde?
Feijó – Um dos maiores bens que fiz para Campos, e que poucos reconhecem, é que não deixei Garotinho ganhar as eleições em 2004, através de Pudim. E olha que você resistir a assédio financeiro não é fácil, agradeço a Deus demais. Campos tem que me agradecer muito porque, se em 2004 eu ficasse neutro, Garotinho ia mandar mais 20 anos em Campos. Campista ganha a eleição, eu falei, vamos dar uma oportunidade a Campista. Eu achava que Campista fosse oferecer oportunidades ao PSDB, não ofereceu. Depois Campista, entrou Mocaiber, teve a nova eleição.
Folha – A complementar de março de 2006...
Feijó – Novamente fui candidato, porque não concordava com esse negócio de Pudim nem de Mocaiber. Conclusão: sai do segundo turno. Mais uma vez falei: “Garotinho não pode mandar em Campos mais”, e aí apoiei Mocaiber no segundo turno. Mocaiber ganha a eleição, e o que ele fez? Me ignorou completamente. Um ano depois, ele concedeu esse espaço na Fundação de Esportes.
Folha – Com a indicação de Ivanildo Cordeiro para a presidência...
Feijó – Eu coloquei Cordeiro lá, que foi essa tragédia. Então agradeço a Deus, porque ali, eu com essa indicação, que não obtive ganho nenhum, foi importante porque eu conheci melhor essas pessoas que estavam do meu lado. Mas eu não fiz parte em momento algum do governo Mocaiber.
Folha – Em certo momento, você manifestou o desejo de Mocaiber retirar Cordeiro. Se isso ocorresse, você não seria candidato a prefeito hoje?
Feijó – Graças a Deus, Mocaiber não cumpriu, não teve pulso com os vereadores. Mocaiber não cumpriu esse compromisso, que não era nem com o partido, era comigo. E eu nunca tive apoio de máquina, não faz falta não. Estou há 20 anos lutando sem apoio de máquina.
Folha – Mas você chegou a assinar convênio com a Prefeitura, no governo Mocaiber.
Feijó – Aceitei uma parceria, onde recebemos 10 mil crianças para oferecer o melhor projeto de educação ambiental da região, que Campos não tem. Até parei com isso hoje. Nós temos lá o Centro de Preservação Ambiental do Rio Paraíba do Sul, com professores, um projeto sem similaridade na região. Eu tinha toda estrutura, com professores, transporte, refeição, para oferecer esse maravilhoso trabalho para as crianças conhecerem coisas que elas nunca viram. Tudo sem fins lucrativos, com prestação de contas rigorosíssima, sem nenhum deslize. A gente que é político não pode ter esse tipo de trabalho, porque ele é politicamente explorados pelos adversários. Acho que se eu quiser montar uma empresa... Eu fiz uma Oscip, que é uma organização da sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Se eu quiser montar uma empresa com o mesmo objetivo, aí eu vou ganhar muito dinheiro, fazendo este mesmo trabalho. Fiz esta parceria com Campos e Quissamã. Mas acabou, foi em 2007.
Folha – Você fala sem constrangimento da relação que teve com a Prefeitura. E a conversa que dizem que teve com Garotinho?
Feijó – Garotinho teve lá no sítio, foi em junho, quando eu estava lá com umas 200 pessoas. Chegou lá, ele, Pudim e Roberto Henriques. Para conversar comigo sobre política, porque ele estava montando a aliança dele. E para me chamar para o grupo dele. Não aceitei. Eu não quero briga pessoal com Garotinho, não quero briga pessoal com ninguém. Mas não fica bem eu fazer parceria com Garotinho, como não fica bem fazer parceria com Arnaldo Vianna. Esse pessoal quero politicamente muito longe de mim. Até porque eu sou um político hoje que estou sozinho em Campos, porque eu não quero cometer essas práticas condenáveis que já se tornaram uma rotina. Nós temos que mudar essa lógica e acho que essa responsabilidade cabe a mim.
Folha – Você falou que fez opções por Campista, por Mocaiber, por oposição a Garotinho. Mas esteve com Roberto Henriques, que é do PMDB, e, em seu governo interino, tinha nomes ligados a Garotinho.
Feijó – Mas Roberto Henriques, pessoalmente, me dou muito bem com ele. Tenho facilidade de conversar política com ele. Nós fomos para entregar os cargos que tínhamos. Aí Roberto falou “não Feijó, não faça isso, preciso de você”. Os vereadores também estavam na conversa. Mas com Roberto nunca tive problema. Mas já naquela altura os vereadores estavam apadrinhando Cordeiro.
Folha — O PSDB negou vaga a três vereadores, um dos únicos do Estado a fazer isso. Você acha que essa ausência pode influenciar o desempenho da nominata do PSDB?

Feijó – Minha atitude foi correta, de um presidente de pulso, de palavra. Depois deles tentarem de várias maneiras tomar o partido, e não conseguiram. E a gota d’água foi que eles quiseram levar o partido para apoiar Arnaldo Vianna. Aí, eles resolveram medir forças comigo, fazendo convenção paralela. Indo a Brasília não sei quantas vezes, indo ao Rio de Janeiro não sei quantas vezes, indo a Macaé, viajaram tudo. Falei: “Vocês tomaram um caminho, não tem mais jeito. Se vocês me tomarem o partido, eu estou fora. Se eu ficar com o partido, vocês estão fora”. Como fiquei com o partido, os deixei fora. Porque quem se propõe a ser prefeito de Campos, como eu me proponho, tem que ter decisão, pulso. Demonstrei que tive pulso dentro de minha casa, arrumei a casa. Tirei os três vereadores.
Folha – Mesmo com o risco de não eleger nenhum vereador?
Feijó – Não adianta você ter vereador infiel no partido. Prefiro eleger dois fiéis, a três infiéis. Ou até nenhum, ou um. Não quero ter vereador infiel.
Folha – Vamos imaginar que Arnaldo continue candidato e que vá ao segundo turno com Rosinha, qual seria o seu caminho?
Feijó – Primeiro: tenho muita fé que eu vá ao segundo turno. Mas, pela primeira vez vou responder a essa pergunta, que muitas pessoas me fizeram, e eu sempre endureci na questão de estar no segundo turno. Mas vamos lá. Eu não fui ao segundo turno. Digo o seguinte: em nível pessoal, jamais apoiaria candidato em que não acredito. Que eu vejo que não re-solverá os problemas de Campos. Não acredito em Garotinho, não acredito em Rosinha, não acredito em Arnaldo Vianna, não acredito em Mocaiber. Se eu acreditasse neles, não estaria aqui com vocês, estaria apoiando eles lá. Em nível pessoal, jamais apoiaria, mas não sei o que o partido vai fazer, isso não é uma questão que dependa só de mim. Tem todo um partido, todo um projeto mais para frente, que não discuti ninguém. Não mando no partido, sou presidente, mas não discuti com ninguém. Tem a regional. Em nível pessoal, ficaria neutro.
Folha – Você, como deputado federal, votou na lei que flexibilizou o monopólio do petróleo e reformulou a legislação que aumentou a arrecadação dos royalties. O que defende para gerar empregos e renda?
Feijó – Primeiro, fazer um governo de austeridade total, 100% de honestidade. Não vou roubar e nem deixar ninguém roubar. Vamos ter dinheiro para gerir o município. Parte desse dinheiro, vamos aplicar na política de geração de empregos. Vamos olhar o Fundecam, porque hoje ouço muita balela. O Fundecam está oferecendo oportunidades a empresários aventureiros e botando muito dinheiro fora. São R$ 240 milhões, para gerar poucos empregos. Acho que o Fundecam tem que melhorar. Vou ser um prefeito muito barrista, valorizando em todas as áreas nossa gente. Por exemplo, o Fundecam, vamos valorizar os pequenos empresários de Campos. Dos mais diversos setores, vamos abrir mais esse leque, vamos envolver as entidades afins de cada setor. Se for o comércio, vamos pegar o CDL, se for o setor rural, vamos pegar a Asflucan, os empresários, vamos pegar a Acic, a Firjan. E elas serão fiadoras junto a essas oportunidades. Acho que fazendo assim vamos gerar muito empregos. Precisamos ver a questão do ISS, que está muito alto. O empresário quer ver o seu custo mais reduzido. Faremos parcerias com os governos federal e estadual. O prefeito de Campos, sabendo a força que tem, fazendo valer sua condição, tem condição de chamar o empresário e ele acreditar.

FONTE- FOLHA DA MANHÃ.


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