Obesidade na infância e adolescência. Vamos prevenir?
A obesidade é definida como o excesso de gordura corpórea em relação ao peso da criança ou do adolescente, resultado de um desequilíbrio permanente e prolongado entre a ingestão calórica e o gasto energético. A obesidade na infância e adolescência não é, na atualidade, privilégio dos países desenvolvidos. Estudos epidemiológicos revelam que em algumas regiões da África a incidência de sobrepeso e obesidade nos dias atuais são quatro vezes maiores que a desnutrição.
A grande preocupação para a saúde pública está na associação entre peso excessivo e os fatores de risco para doenças crônicas do adulto, em especial a hipertensão arterial e o diabete melito, grandes responsáveis pela maioria dos óbitos em todo o mundo. Da década de 1960 a 2000 houve um aumento de 5 para 15% de obesidade, segundo Delgado et al (2010), na adolescência e quadruplicou na faixa etária de 6 a 11 anos (de 4% para 19%) e praticamente dobrou (de 5% para 14%) entre as crianças de 2 e 5 anos de idade. Os dados mais alarmantes referem-se á observação de crianças menores, entre 6 meses e 23 meses de vida. Pesquisas realizadas nos EUA revelaram que 12% dessa faixa de idade já podiam ser classificadas como sobrepeso.
Estudos realizados no Brasil, em diversas regiões, demonstraram que de 10,8 a 33,8% na faixa etária atendidas por pediatras apresentavam excesso de peso. Na infância e na adolescência, devem se avaliados o índice de massa corpórea (peso dividido pela altura ao quadrado) nas consultas pediátricas de rotina. O exame clinico do paciente obeso deve partir de investigação de diversos aparelhos do organismo. Sintomas respiratórios como roncos, respiração bucal, sono agitado, sonolência diurna, dificuldades de aprendizado, dor de cabeça, alterações da pele, dor nas articulações, alterações da marcha devem ser notados. Ainda podem surgir dor abdominal, queixas comuns nos casos de refluxogastroesofágico. Podem ser notadas ainda alterações comportamentais como ansiedade, compulsão e sintomas depressivos.
Dados referentes à história do pré-natal materno, peso ao nascer e tempo de aleitamento materno exclusivo devem ser pesquisados. História familiar com presença de casos de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e diabete melito, alteração das gorduras sanguineas (dislipedemias), doenças da tireóide servem como sinal de alerta para a presença de possíveis alterações do metabolismo, que por transmissão genética podem estar ocorrendo na criança ou adolescente. Para tranqüilidade dos pais, as análises epidemiológicas têm demonstrado que a maioria dos casos diagnosticados como obesidade (95%) tem como causa maus hábitos alimentares, raramente estando associada a outras causas. A avaliação laboratorial se faz necessária diante da consulta médica, como hemograma, glicose, insulina, dosagem de gorduras do sangue, ferro entre outros.
A avaliação da idade óssea é importante para descartar possíveis alterações hormonais. O ultrassom abdominal auxilia para identificar ou não a presença de gordura no fígado (esteatose hepática) e de presença de gordura no pâncreas. Avaliação psicológica é importante para verificar a existência de distúrbios psicológicos ou psiquiátricos, primordial para o diagnóstico do paciente. Muitos tem sido os estudos realizados sobre a atual epidemia de obesidade. Mudanças ambientais referentes a hábitos alimentares e estilo de vida tem sido imputados como os principais responsáveis pela alta incidência da doença.
Mudanças no estilo de vida aconteceram em todo o mundo tendo como conseqüência redução da atividade física e aumento da ingestão calórica e de aditivantes como o glutamato de sódio que realçam o sabor dos alimentos, induzindo ao aumento da ingestão desses. Escadas rolantes e elevadores reduzem o gasto calórico. Brincadeiras ao ar livre acabaram substituídas pela televisão e videogame, além do medo da violência urbana.
Os programas escolares de educação física não são levados a sério. A Academia Americana de Pediatria recomenda que crianças menores de dois anos não devam assistir TV pelo risco de desenvolverem distúrbios de comportamento e as maiores de dois anos não devem ultrapassar 2h/dia vendo TV pelo risco de desenvolver obesidade. O marketing de alimentos utiliza brinquedos, músicas e outros chamativos para as crianças e a estimativa é que essas crianças assistam em média 100.000 comerciais de alimentos por ano na TV.
A melhor estratégia para conter e vencer a obesidade na infância e adolescência é a prevenção. A observação e vigilância dos pais e responsáveis para detecção precoce do problema é fundamental. As consultas de puericultura sistemáticas (criança não deve ir ao pediatra só quando adoece) são fundamentais para a aquisição de hábitos alimentares saudáveis e a atividade física lúdica desde o primeiro anos de vida são primordiais na prevenção da obesidade na infância e adolescência. Devem ser levadas em conta as mudanças ambientais acontecidas de 1960 para cá, interferindo também na saúde do adulto.
A necessidade de mudanças de hábitos alimentares na família como um todo e no estilo de vida devem se constituir no principal alicerce para a melhora desses pacientes.
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