SUDÃO DO SUL
*ARTHUR VIRGÍLIO
Lisboa – A Assembleia Geral da ONU aprovou, por aclamação, a Resolução que propunha o ingresso do Sudão do Sul. Centésimo nonagésimo terceiro país do mundo. O mais pobre de todos. Talvez o mais sofrido.
Feliz ironia do destino foi o apoio de Ruanda, que, faz pouco tempo, viu a maioria hutu genocidar hutus moderados e milhares e milhares de representantes da minoria tutsi. Pois os genocidas que ainda vivem têm sido condenados pela Corte Internacional da Haia,um a um, a cumprir penas duras.
Os sudaneses do sul também sofreram matança em massa, ordenada pelo ditador com quem Lula, quando presidente da República, desfilou em carro aberto. Sem ética, sem pejo, um pouco na obsessão de conseguir voto para a tal vaga permanente no Conselho de Segurança, outro pouco por sua queda inegável por governantes autoritários.
O Sudão do Sul nasce perdoando o Sudão, disposto até mesmo a manter bom relacionamento bilateral. Parece Mandela perdoando seus algozes, em nome de uma África do Sul democrática e una.
O Sudão do Sul nada possui, além da dignidade do seu povo. Apenas 6% dos seus habitantes tem acesso a água encanada. Precisa elaborar sua Constituição, que espero democrática. Necessita construir uma economia agrícola.
Não possui infraestrutura qualquer. Nem rede básica de saúde ou educação. Sua capital, Juba, é o ponto de onde partirão as ações de verdadeira fundação de um estado nacional.
O presidente e o vice-presidente do novo membro da ONU sabem o desafio que têm pela frente. E se comprometem a cumpri-lo: atrair capitais estrangeiros para impulsionar a economia, respeitar a mulher, viver em paz – superando o travo do ressentimento – com seu vizinho, irmão e, até ontem, inimigo também.
Como o Brasil de Lula errou ao preferir o opressor, virando as costas para o oprimido! E como os sudaneses do sul acertam ao enterrar o passado e propor futuro de entendimento e respeito mútuo!
A opção pela democracia é o mais justo dos começos. A escolha da paz é o mais sábio dos caminhos.
O ódio é a erva mais daninha de todas. O ressentimento não constrói nada positivo e ainda corrói a alma de quem o exercita.
Não se pede esquecimento a quem sofreu tanto. Até porque a dor faz parte de sua história.
Espera-se, isto sim, fé para construir um país praticamente do nada, equilíbrio para governá-lo pelo caminho da prosperidade e da justiça e capacidade de perdoar.
Sei que não é fácil. Menos exigente é deixar a cabeça e o coração se encherem de trevas. Mais exigente é sepultar fantasmas e contemplar as colinas do futuro.
A linha que vai seguindo o jovem estado nacional me comove. E me dá esperanças num mundo sem guerras, sem atrocidades, sem carnificinas.
Vida longa ao Sudão do Sul e a sua gente brava e generosa!
*Diplomata, foi líder do PSDB no Senado
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