sábado, 4 de junho de 2011

"SEM NOÇÃO" POR ARTHUR VIRGÍLIO



SEM NOÇÃO

*ARTHUR VIRGÍLIO
          Lisboa – Decepcionante a atuação da atual diretoria do Banco Central, a começar por seu presidente, Alexandre Tombini, para quem o quadro econômico brasileiro é cor de rosa, apesar da crise fiscal que ele não poderia/deveria ignorar. Fala que estamos crescendo sustentavelmente, quando, na verdade, medidas são adotadas para supostamente conter o eleitoreiro superaquecimento do consumo em 2010.
          Declara-se otimista, em plena era de globalização, como se fôssemos ilha de bem estar, em meio a “indicadores fracos nos Estados Unidos, crise de dívida na Europa e tensões geopolíticas na África e no Oriente Médio”. Panglossianamente, anuncia crescimento “ainda mais robusto que o observado nos últimos anos”, sem explicar a que anos se refere: 2009 (- 0.5%) ou 2010 (+7.5% insustentáveis, induzidos pela farra fiscal e do crédito, cujas prestações consomem, hoje, ¼ da renda das famílias). Se estiver falando da média do biênio, chegará a medíocres e insuficientes 3.5% .
          O Banco Central abriu mão da autonomia que conquistou em 16 anos de Fernando Henrique e Lula. Dilma Rousseff se vangloria de não ter nomeado ninguém do mercado para a diretoria. Nada contra funcionários de carreira galgarem postos de diretoria. Mas o ideal é misturar os dois tipos. Os de fora têm menos medo da demissão. Os atuais se curvam ao errático ministro Mantega pelo temor de perder o status atual.
          O Banco, então, adota medidas “meia-boca” na luta que vai perdendo contra a inflação (está em 6.5%, com perspectivas de chegar a 7%.), para não desagradar à “chefia”. Dia desses, jogará a toalha e aumentará drasticamente as taxas de juros. Estas são muito elevadas para qualquer economia civilizada, sobretudo se levarmos em conta que o Peru trabalha com meta de 2% e crescerá 7.5% neste 2011. E Colômbia, Chile e México trabalham com meta de inflação de 3%. Ou seja, estamos em pior estado que países parecidos conosco. Só a linguagem oficial, tratando a opinião pública como se estivéssemos sob ditadura, espalha seu otimismo falacioso.
          O pano de fundo é ruim: o principal ministro da República está desmoralizado: isso fortalece Mantega e suas ideias extravagantes. A Presidente se porta como assessora do seu antecessor: inerte durante a crise Palocci, praticamente transferiu o governo a Lula e José Sarney.
          A economia está no impasse de tomar atitudes férreas contra a sobrevalorização do real, correndo o risco de perder dólares e ter dificuldades de tapar o rombo das contas externas. Ou de deixar o câmbio como está, desindustrializando o País, exportando empregos, sufocando o setor exportador.
          Mantega e Tombini deveriam falar com mais compostura pública e intelectual à Nação.

          *Diplomata, foi líder do PSDB no Senado

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