Marina Silva vem aí. A ex-ministra do Meio Ambiente, com quem Lula brincou de esconde-esconde no governo (fingindo que a levava a sério), é a mais nova quase pré-candidata à Presidência da República.
Tem gente animada com a novidade. Estão até dizendo que Marina vai embaralhar a sucessão, porque sai do útero do PT e partilha a herança de Lula. A eleição perderia o enunciado fácil “Dilma contra eles”.
Tudo teoria. Dilma Rousseff está há quase três anos em campanha pelo Brasil inteiro, carregada pela máquina do governo e pela mão do Padre Cícero Lula da Silva. É forçar um pouco a barra imaginar que em pouco mais de seis meses de campanha franciscana (daqui que saia candidata), Marina Silva vá embaralhar alguma coisa.
Mas talvez embaralhe. E não pelos inúmeros motivos que têm sido levantados.
É defensora do meio ambiente, e o eleitorado está querendo votar por um futuro sustentável? Vamos deixar de brincadeira. Mudança climática que pode decidir eleição no Brasil é uma seca no Bolsa Família, ou o derretimento das calotas do Banco Central.
É uma das últimas defensoras de verdade da ética? De fato é. Mas já se viu, pela eleição de 2006 pós-mensalão, que esse tema infelizmente saiu de moda no Brasil.
Marina é cria do PT e ex-ministra de Lula? Isso pode legar-lhe algum capital político do presidente? Outra tese tola. Em dois tempos, o Duda Mendonça da vez apresenta Marina como traidora, como mais uma a abandonar o barco depois de criar dificuldades ao governo.
A bomba atômica de Marina Silva não é ser ecológica, nem ser petista, nem ser ética. É ser mulher.
Esse é o seu grande capital, que pode ser assimilado pelo povo numa campanha relâmpago. Não é preciso muita estratégia, nem muito discurso, nem muito tempo para mostrar a um país inteiro que alguém é mulher. E por que isso pode mudar tanto a eleição? Porque rouba de Dilma o único traço real do seu personagem eleitoral: ser mulher.
A mãe do PAC, a gerentona, a guerrilheira, a Bachelet daqui, a primeira presidenta – toda essa laranjada é uma variação sobre o tema “ser mulher”. Com outra mulher no páreo, Dilma deixa de ser a mamãe que vai suceder o papai e volta a ser apenas o que é de fato para a política nacional: nada.
É claro que continuará tendo o grande padrinho. Sem o trunfo da saia, porém, lhe restará tentar engrossar um pouco a voz e cometer alguns erros de português. Mas esse tipo de maquiagem é um pouco mais difícil de se fazer.
Guilherme Fiuza.
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