quinta-feira, 6 de agosto de 2009

DOENÇA SOCIAL.


O homem passa de bicicleta e avistando o amigo do outro lado da calçada grita:

- É, rapaz, a situação tá preta! Não há doutor que dê jeito!...

Levanto os olhos do jornal que leio e repito baixinho: - É... Não há doutor que dê jeito.

É só abrir o matutino, ligar o rádio ou ver o noticiário da tevê para que se desencadeie em nós, humanos, as mais variadas sensações de desconforto, náusea, tonteira, dor abdominal, taquicardia, insônia e dor de cabeça.

Aos poucos somos tomados por uma onda febril de sentimentos de tristeza, insegurança, desalento, impotência, omissão e medo.

Temos espasmos de indignação ao vermos “Joões” serem arrastados pelo chão aos olhos de mãe aflita; “Marias” apanhando das próprias mães e arrastadas pelos cabelos. Um crescendo de violência como ferida que não cicatriza.

São mortes, seqüestros, assaltos e sobressaltos que dia após dia digerimos goela abaixo como remédio amargo.

Assistimos casos e relatos diários desta doença social que nos derruba todos os dias e nos deixa acamados num grande leito flutuante no céu da desesperança.

E tome prognósticos, diagnósticos, sintomas, tratamentos, fórmulas de cura , raioX... Tudo analisado e estudado por leigos e entendidos no assunto em busca do resultado que extermine este mal progressivo.

Todos, sem distinção, desejam prescrever a receita infalível que combata tamanha anomalia.

Lutamos, recuamos, formamos parcerias, gritamos, protestamos. Paramos. Trocamos de assunto, de lugar e, involuntariamente, anestesiamos a dor coletiva.

Cada um, a seu modo, (até por sobrevivência) busca lenitivo: uns oram, outros cantam, alguns dançam e há, os que como eu, escrevem o que lhes vai à alma.

Assim, de forma quase sutil, tentei fazer esta crônica de hoje iniciada pela evocação do homem da bicicleta: “Não há doutor que dê jeito!”.

Walnize Carvalho.

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