Será que estamos realmente cansados? Violência urbana e doméstica, acidentes aéreos, desemprego, fome, filas, instituições bancárias, mordomos, prefeitos, governadores, Presidente, Campos Luz; sei lá, você cansou?
Passeatas, carreatas, greves, resmungos, gritos e faixas. Será que resolvem? Claro que não! Afinal,os ouvidos do poder encontram-se bem longe de nós, pois só escutam o que lhes interessam.
São ouvidos pilantras, sanguessugas do dinheiro público, verdadeiras anacondas na arte do ganho fácil. Operam no carimbo, na poeira do deserto, na CPI do apagão, da Petrobras, do Zumbi dos Palmares e nas armações de Sarney, causando nuvens negras no telhado de vidro de nosso cotidiano.
Financiados por bancos, por empresas aéreas e universidades. Construídos por empreiteiras, massacram o pobre e nutrem os componentes do esquema.
A Casa de espetáculos é a mesma. Cheia de vícios, de dinheiro, de malas, de demagogia, o Congresso Nacional encobre o lamaçal com ternos, gravatas e pensões alimentícias.
Açougues, bois, vacas, meretrizes, wisky, vodca, amante, sexo, caseiros, sofá e drogas. Brindes licitatórios, ganância, nepotismo e habeas corpus. Liminares, renúncias, cassações e vaias.
Morosidade processual, trânsito intenso, trombadinhas, ladrões, homicídios, PSF, terceirizados. Esgoto à céu aberto, buracos nas ruas, cheiro fétido nas Assembléias e tiros no morro e no asfalto. Ácido nas raves, maconha na praia, bêbados ao volante.
Caça-níqueis, preservativos, Papa, Gilmar Mendes, Daniel Dantas, Joaquim Barbosa, SBT, Band, Daslu, Bulhões, canais fechados e abertos alimentando mentes inférteis.
Cansei! Um cansaço sem vergonha, pois apesar de tanta coisa ruim tenho que levantar cedo, tomar banho, acreditar que o salário cobre o mês e chegar ao trabalho feliz. A alegria sarcástica deixa-me anestesiado. Não posso mais pensar nos medos, nas dores, nas dúvidas e nas aflições. Só me resta trabalhar e acreditar que melhores dias melhores virão.
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Artigo de minha autoria publicado no jornal ODiário de hoje.
Cláudio Andrade
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