Desde Getúlio Vargas não se via coisa igual ao blog da Petrobras. Deve ser uma homenagem ao criador da estatal.
A censura na ditadura de 64 era mais tosca. Mordaça na imprensa e na cultura, e ponto final. Péssimo do mesmo jeito, mas claramente um ato brutal – que do jeito que foi instituído, foi removido.
O Departamento de Imprensa e Propaganda de Vargas era mais sutil – e mais grave. Tratava-se de uma política de controle das formas de expressão, ou seja, a gestação de uma “cultura” da censura.
É exatamente isto o que está se vendo no governo popular, que tem nítida dificuldade em lidar com o princípio da liberdade. O presidente de esquerda passou seu primeiro mandato inteiro sem dar entrevistas, aconselhado por assessores paranóicos que enxergam golpe em cada manchete da imprensa burguesa.
Todos devem se lembrar da desastrada tentativa de Lula de expulsar do país o correspondente estrangeiro que escreveu sobre seus hábitos alcoólicos.
O Blog Big Brother da Petrobras é a maior excrescência desses 30 anos de retomada da liberdade de expressão. As mentes engenhosas do lulismo criaram um monstro moderno – a difusão da informação como forma de inibi-la.
Publicar em tempo real as conversas de funcionários da estatal com jornalistas é uma espécie de auto-arapongagem. Um aviltamento do trabalho de apuração jornalística, um rolo compressor sobre a sensibilidade e o discernimento de cada repórter, jogando toda informação numa vala comum de espionagem branca.
O pior de tudo é a tentativa de apresentar esse BBB da comunicação de massa como “democratização da informação”. Os amantes da censura nunca foram tão cínicos.
O recuo da Petrobras, ao anunciar que só vai pôr no ar a sua auto-arapongagem à meia-noite, é uma emenda que confirma a estupidez do soneto. A espionagem branca continua, adiando um pouco a entrega da muamba intelectual.
O governo popular tem horror à liberdade do conhecimento. Deve ser a democracia não contabilizada.
Guilherme Fiuza.
Um comentário:
As vezes, a leitura de certos textos me fazem sentir um idiota! Mas o que será que os impolutos e imparciais jornalistas, que afinal de contas não representam interesse de classe ou político tem a esconder ou a se constranger no honesto exercício de seu ofício?
O princípio básico do jornalismo não é a transparência e a máxima oferta de informação à opinião pública? Então por que suas questões são impublicáveis?
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