Por Josias de Souza.
Além do título funcional –chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo—, Rosemary Noronha, a Rose, costumava exibir uma credencial oficiosa. Apresentava-se a interlocutores como “namorada do Lula”. Algo que potencializava sua capacidade de traficar nomeações e negócios no governo.
A revista ‘Época’ dedicou a capa de sua última edição à super-servidora, pilhada pela Polícia Federal na investigação que desbaratou a máfia que trocava propinas por pareceres técnicos de órgãos públicos. Sob o título “Rose e a sedução do poder”, a notícia reúne malfeitos conhecidos e detalhes inéditos.
No seu miolo, o texto reproduz relato de um alto executivo da Companhia das Docas do Porto de Santos, a Codesp. Anota: “Rose evocava sua relação com Lula para fazer indicações e interferir, segundo seus interesses, nos negócios da empresa. Nessas ocasiões, diz o executivo, Rose se apresentava como ‘namorada do Lula’. ‘Ela jogava com essa informação, jogava com a fama’, diz ele.”
Para ilustrar o que disse, o executivo da Codesp contou um episódio ocorrido em 2005. Uma funcionária da Guarda Portuária passou a propalar na empresa a informação de que ganhara o emprego porque era amiga da “namorada do Lula”. O comentário chegou à direção do Porto de Santos. Um diretor repreendeu a funcionária. Abriu-se uma sindicância, que resultou na demissão da amiga da “namorada”.
Abespinhada, Rose tocou o telefone para diretores da Codesp. Nessas ligações, endossou o que a servidora demitida difundia pelos corredores da empresa: “Eu sou a namorada do Lula.” Os interesses de Rose no porto de Santos não se limitaram à inclusão de uma funcionária mequetrefe na folha. Ela agenciava negócios mais graúdos.
Agia em combinação com Paulo Vieira, apontado pela PF como “chefe” da máfia dos pareceres, e o petista Danilo de Camargo, ligado ao grupo do ex-ministro José Dirceu no PT. Os dois, por sua vez, entendiam-se com o deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP). O grupo providenciou o cancelamento de um pedaço da dívida de R$ 120 milhões de uma transportadora chamada Libra com a Codesp.
O acordo foi referendado pela presidência da Codesp e sacramentado no Ministério dos Transportes, à época submetido ao domínio do PR de Costa Neto. Liderado pela ex-prefeita Telma de Souza, o PT de Santos revoltou-se com os termos do acerto. Rose entrou em cena. Evocando sua relação com Lula, defendeu os interesses da Libra.
Não há nas páginas do inquérito da PF nenhum elemento que aponte para a responsabilização de Lula nas traficâncias de Rose, 57 anos. Porém, para usar uma terminologia que o julgamento do STF popularizou, cabe perguntar: considerando-se sua proximidade com a auxiliar, será que o ex-presidente não tinha o domínio do fato?
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