PALHAÇO POLÍTICO OU POLÍTICO PALHAÇO?

Há pouco mais de quinze dias da eleição, o candidato a deputado federal Francisco Everardo Oliveira Silva, mais conhecido como Tiririca, está entre os mais citados.

Segundo o IBOPE, o palhaço estaria hoje com aproximadamente oitocentos mil votos. Muitos entendem que o fenômeno é surreal, decepcionante e vergonhoso. Outros dizem  tratar-se do desconfortável ônus democrático.

Respeitando todas as posições, faço leitura diversa. A candidatura do palhaço encontra chancela na legislação eleitoral. Trata-se de uma norma que permite a todos aqueles que preencham os requisitos impostos postularem um cargo eletivo público. São os chamados legitimados passivos.

No caso em questão, o autor de "Florentina" fez o que tinha que ser feito para disputar uma cadeira na Câmara Federal. A expressiva quantidade de votos que os entendidos projetam para ele não é fruto de descaso e sim de uma constatação: o povo palhaço necessita de um representante.

Tiririca irá oferecer ao Congresso Nacional apenas a 'cereja' do bolo. Com a sua presença, o povo brasileiro começará a entender que o circo congressista possui homens divertidos, que sorriem mesmo quando não estão negociando ou diluindo no interior de diversas peças íntimas,  grande parte de nossa esperança. 

O nobre animador não será a primeira figura folclórica no setor bicameral do Planalto Central. O circo do Congresso já possui águias, cobras, zebras, piranhas, tubarões, senhores de engenho, delegados, malabaristas do dinheiro público, sanguessugas, todos vestindo ternos ou terninhos. A chegada quase certa de um palhaço, é crucial para que tudo continue caminhando dentro da obscena naturalidade atual.

A vitória do candidato do PR/SP não será um acaso. O Partido vislumbra uma retumbante derrota nas urnas e, temendo uma posição ínfima na conjuntura da nova legislatura, estimulou o senhor Francisco a encarar o desafio das urnas.  A sigla não deseja ser componente do baixo clero.

Fico imaginando qual será a comissão presidida pelo rei do circo. A educação para que haja mais alegria no ensino ou segurança pública para que as artes sejam implantadas nas comunidades carentes? A Comissão permanente da saúde também não seria má ideia, afinal mais um pouco de brincadeira com a saúde pública não seria nenhuma novidade.

Caso eleito, o nobre comediante estará indo para o lugar certo. Tiririca, com a possibilidade de atingir um milhão de votos, será o condutor de mais um 'trem da alegria'. Quem sabe não será o Ministros dos Esportes durante a Copa do Mundo, afinal existe coisa mais teatral do que os projetos públicos destinados ao maior evento futebolístico do mundo?    

As palhaçadas protagonizadas no picadeiro de Brasília traduzidas em renúncias, cassações e acordos terão um componente a mais. Teremos um palhaço político olhando dentro dos olhos dos políticos palhaços.  

Cláudio Andrade.