É fato que Sarney se negou a prover os cargos reivindicados pelo PSDB?

Isso é uma mentira. Eles dariam tudo o que a gente quisesse e mais o resto. Até porque um homem com a idade do presidente Sarney merecia estar dormindo a essa hora. Mas, preocupado, está bem acordado [Virgílio conversou com o repórter à 1h, já na madrugada deste sábado]. Então, isso é uma balela de baixo nível.

- Não negaram ao PSDB a comissão de Relações Exteriores?

Eles estavam buscando todas as fórmulas para nos contemplar. Buscavam uma maneira de não deixar mal o Garibaldi [Alves]. Também acho que ele não deve ficar mal. Foi um grande presidente do Senado. Merece uma comissão importante. Falaram em dar a comissão de Relações Exteriores para o ex-presidente Fernando Collor [PTB-AL]. Acho prematuro. No lugar dele, eu não postularia. Depois de tudo o que houve, a forma como ele deixou a presidência [da República]... Eu teria mais cuidado. Mas creio que não farão. A terceira escolha, pela proporcionalidade, é nossa. E podemos escolher a comissão de Relações Exteriores. Não há pecado em discutirmos quais comissões devem ser nossas. No pau, sem negociação, a gente tem, pelo tamanho da bancada, a terceira escolha. Vale para a Mesa e para as comissões.

- Não receia perder espaço com Tião Viana?

O Tião me perguntou: o que você acha que a bancada precisa para ser contemplada. Eu disse: nada. Basta que você cumpra os compromissos assumidos conosco. Nossas posições nós vamos buscar fazendo valer o princípio da proporcionalidade.

- Podem ficar sem a comissão de Economia, não?

Eu estava cheio de dedos quando telefonei para o Tasso [Jereissati, candidato do PSDB à comissão de Economia]. Queria dizer a ele que não era a hora de discutirmos a comissão de Economia. O Tasso nem deixou que eu completasse o raciocínio. Ele me disse: ‘Arthur, esse não é o nosso esquema’. O Tasso está constrangido. Tem amizade com o Sarney. Mas foi empurrado para essa negociação por nós. Ele tinha mais simpatia pelo Tião.

- Por que a decisão de apoiar Tião Viana foi tomada em Recife?

Havia uma reunião programada do Sérgio [Guerra] com o Tasso, que voltava do exterior. Eles conversariam com o Jarbas Vasconcelos [senador dissidente do PMDB, pró-Tião]. Eu disse ao Tasso, pelo telefone: Dessa vez o Jarbas está certo. E ele: ‘Não me diga que você acha isso! Arthur, a opinião pública deseja que a gente marche com o projeto do Tião’. Eu estava em Brasília. Ele falou: ‘Vem pra cá’. Eu fui. Chegamos a um entendimento em cinco minutos.

- Entre os tucanos, o sr. era o mais envolvido coma opção Sarney, não?

É verdade. Eu dizia: não tem lógica, em princípio, a gente apoiar o PT. Só que me convenci de que não dava. O senador Renan é líder do PMDB. Temos de dialogar com ele. Mas me dei conta de que a moldura que ele montou não era a minha. Na reunião com eles, fiquei inquieto. Depois, chego no meu gabinete e encontro uma carta do senador Tião Viana. Uma resposta à nossa pauta de reivindicações. Adorei a resposta. Gostei muito. Demonstrou consideração. Faço o quê? Finjo que não recebi?

- O Sarney se negara a subscrever?

Não quis subscrever, embora dissesse que concordava com as linhas gerais.

- Como foi o seu contato com a Roseana Sarney?

Liguei pra ela, pra informar da nossa decisão. Disse: Olha, Roseana, já tive problemas de relacionamento com seu pai. Não tenho mais. Falei que a reunião que tivemos com eles foi definitiva pra mim. Disse que eu não era o único que estava amargurado.

- Os demais integrantes da bancada foram ouvidos?

Sim. Telefonamos para todos eles. Alguns disseram que iam votar em Sarney contrariados. O senador Álvaro [Dias, PR] discrepou, mas disse que seguirá o partido. O senador Papaleo [Paes, AP], que tem uma situação peculiar no Amapá, também divergiu.

- O time de Sarney diz que terá pelo menos quatro votos do PSDB. Procede?

Acho muito difícil ter traição do nosso lado. É melhor eles cuidarem da horta deles. Isso demonstra uma certa preocupação e muita insegurança.

- A divergência do senador Papaleo será acatada?

Pra mim ele disse que seguiria o partido. Depois, em público, disse que votará em Sarney. Não gostei do método. Vou buscar os votos da minha bancada. Houve concordância. Quero 12 dos 13 votos. Se puder convencer o Papaleo eu o farei.

- Ao optar por Tião Viana, os srs. esqueceram 2010?

Fomos bem entendidos pela bancada. Não houve diferenças.

- Serra e Aécio foram consultados?

O Sérgio Guerra havia conversado com eles antes. Mas nós, no Senado, conquistamos uma posição muito boa. Respeitamos os nossos governadores e o presidente Fernando Henrique. Mas a bancada opera com autonomia. Não há hierarquias entre nós. Isso ficou muito claro na votação da CPMF. E os nossos candidatos à sucessão presidencial minimizaram os efeitos eleitorais desse processo do Senado.

- Não é contraditório que o PSDB vote num candidato do PT?

Nosso partido tem espírito público. Não quero dizer que outros, como o DEM, não tenham. Digo que nós temos. A ponto de apoiar uma pessoa do PT por entender que é o melhor para o Senado. Talvez o PT possa fazer uma autocrítica sobre a atitude deles em relação a nós. Quem sabe possamos estabelecer um diálogo de nível mais alto. O Tião é meu amigo. Mas não era ele que estava em jogo. Era o PT. Vencemos o preconceito. Não sofremos de PTfobia. No segundo turno contra o Collor, votei no Lula. Teríamos feito composição com Lula em 94 se ele não tivesse cometido a tolice de desancar o Plano Real. O vice dele talvez fosse o Tasso Jereissati. Hoje, divergimos de detalhes da forma como ele governa. O que não nos impede de exercitar nosso espiríto público.

- Acha que Sarney, se eleito, faria mal ao Senado?

Não digo que ele queira fazer mal ao Senado. Ele disse a nós uma frase forte: ‘Não vou enodoar a minha biografia’. Não tenho dúvida de que foi sincero. Mas é preciso analisar as condições: a base dele não quer mudança nenhuma. Que me perdoem eles. Mas essa não é a minha praia. Tentam nos espicaçar. Quanto mais insistirem nessa linha, mais eu irei esmiuçar as razões que nos levaram a pular fora.