OS FILHOS DE TIMÓTEO

O caso recente em que a Justiça da cidade de Timóteo no Estado de Minas Gerais condenou os pais que retiraram seus filhos da escola para ensinar-lhes em casa, abre uma importante discussão acerca do papel da educação pública brasileira no que concerne à formação de nossos rebentos.

No caso em questão, os pais adotaram um método americano conhecido como ‘homeschooling’ e foram condenados com base no artigo 55 dos ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Através do método estrangeiro, os ensinamentos são realizados em casa, sem a participação de profissionais educacionais, situação essa que gera uma infinidade de questionamentos.

Sou professor universitário há oito anos e tenho uma opinião bem definida acerca dos jovens universitários. Grande parcela deles não lê, não pesquisam, possuem um banco de dados informativo ínfimo, bem como inúmeras deficiências oriundas dos bancos escolares.

A Universidade Candido Mendes, por exemplo, implantou um sistema de notas, onde os alunos são orientados a lerem um livro e são avaliados por isso. Quando o projeto entrou em vigor, a gritaria foi geral, afinal a falta de hábito gerou protestos.

Ao meu sentir, o ensinamento em casa priva os filhos do contato necessário com a sociedade. A escola se faz necessária, inclusive, para construir a aceitação ao não, um dos grandes obstáculos para a sociedade. No espaço educacional as crianças e os adolescentes aprendem a enxergar um mundo além lar.

Por outro lado, as escolas públicas brasileiras são pavorosas. A infra-estrutura é muito precária, chegando ao cúmulo de possuirmos algumas delas sem cadeiras para sentar e bibliotecas para consultas.

No quesito grade curricular, a situação também é difícil, pois o curto espaço de tempo para ensinar, faz com que o corpo discente fique sem o conhecimento do básico, sem contar que o alunado não possui o hábito de estudar além dos ensinamentos escolares. Tudo é decorado e sem construção de entendimento e lógica.

O Brasil vive um momento negativo bem peculiar, pois tudo que é público parece ruim, desestruturado e fadado ao insucesso. Não sou derrotista assim, mas há necessidades gritantes que estão sendo abafadas pelos órgãos competentes.

Punir pais por optarem pela educação caseira, ao meu sentir, é incoerente. Quero deixar claro que não estou pregando qualquer tipo de desescolarização, entretanto, não sou a favor de punir ascendentes que, por direito, devem escolher a melhor educação para os seus descendentes.

Partindo do princípio de que a cidade Timóteo não possua uma escola de qualidade aos ‘olhos’ da família Andrade Nunes, teriam os mesmos que mudarem de localidade até acharem uma instituição de referência?

A obrigação da matrícula é dos pais, mas o direito de receber uma boa formação é dos filhos, mas infelizmente, vejo que há um grande desequilíbrio. Quem impõe não faz por onde, logo o descrédito educacional cresce.

Também não podemos esquecer a parcela de culpa paterna. Muitos provedores deixam à criação de seus filhos nas ‘mãos’ de terceiros físicos ou tecnológicos. As babás e os DVDs, o eterno sim em detrimento ao conturbado não faz com que o alicerce para o ingresso na escola seja desconstituído fazendo com que as instituições de ensino tenham que além de ensinar, suprir eventuais deformações oriundas do lar.

Vamos opinar?

Cláudio Andrade