Jornal Terceira Via
A Câmara dos Deputados Federais aprovou o Projeto de Lei que põe fim aos 14º e 15º salários, conferidos aos parlamentares há quarenta e nove anos.
Quem acompanha a política nacional sabe que, na maioria das vezes, os debates na Câmara e no Senado terminam com aprovação de benefícios para seletos segmentos em detrimento dos interesses da coletividade.
O projeto que extinguiu o 14º e 15º salários também já foi aprovado pelo Senado Federal. A título de curiosidade: o Congresso gasta, aproximadamente, R$ 26 milhões com o pagamento dessas "benesses". Uma gritante diferença de direitos entre aqueles que votam (os eleitores) e os que são votados (os eleitos)!
Para sobreviver, o brasileiro comum cumpre uma série de ordenamentos que lhe confere mais obrigações do que direitos. Esses brasileiros laboram pensando no hoje, pois sabem que o amanhã é incerto. Alguns têm seus direitos trabalhistas ignorados por empregadores que lucram demasiadamente. Outros ainda trabalham na condição análoga à de escravo.
A reparação desse erro histórico (14º e 15º), em vigor desde os idos de 1964, precisa ser comemorada. Há, ainda, outros privilégios conferidos por lei aos políticos que precisam ser revistos em nome da razoabilidade a fim de se acabar com a ‘divindade’ conferida aos cargos eletivos.
A revogação de algumas benesses, concedida aos políticos, se faz urgente. Os eleitos deveriam provar ao povo e à sociedade que a distância entre eles é meramente de ordem institucional (em função do cargo).
Quanto mais discrepâncias arcaicas forem extintas, maior será o crédito moral do detentor do cargo para com o cidadão. O homem comum precisa ver aquele por ele eleito como um trabalhador/representante e não como um aproveitador de prerrogativas.
Henri Montherlant já dizia que a política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros. Essa frase cabe na atualidade e demonstra como o eleitor ainda é peça de engrenagem de um sistema que beneficia poucos.
A população brasileira, de tanto ser lesada por atos de corrupção, pode pensar que a ação conjunta entre deputados e senadores, que redundou na extinção desses salários adicionais, é um favor ao eleitor. Não mesmo!
É uma obrigação de ordem moral e ética pôr fim a qualquer regalia que fuja ao razoável.
Não estamos falando de todas as garantias inerentes aos cargos eletivos. Estamos nos reportando a ranços travestidos de garantias cujo nascedouro se encontra, por exemplo, nos anos de chumbo e precisam ser exterminados. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche já dizia a célebre frase: "Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos".
Há necessidade de olharmos por detrás das cortinas. Afinal, os políticos podem ser os atores principais, mas somos nós - os coadjuvantes - que alimentamos, a cada dois anos, o status político desses homens públicos.
Sendo assim, só devemos aplaudir aqueles dignos de abrir a cortina...
Cláudio Andrade
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