quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Testamento para Roseana


 Jornal Terceira Via

No início de março, o Senador José Sarney vai entrar em licença, por cento e vinte dias, para conclusão de um livro cujo título provisório é: "Testamento para Roseana".

Em uma análise prospectiva, penso que o ex-presidente do Senado pretende dar uma prova de amor a sua filha. Singelo isso. Mas não restam dúvidas de que Sarney possui muito a contar de sua longa carreira política que, para uns, já deveria ter sido encerrada.

Sem querer me imiscuir na subjetividade do ex-governador do Maranhão, mas entendo que já que existe tamanha disponibilidade temporal (o Senado deve estar um marasmo), por que não um resumo de seu legado para o povo brasileiro?

Sarney ocupou vários cargos de suma importância no cenário nacional, tendo sido, inclusive, o trigésimo primeiro Presidente da República, no período compreendido entre os anos de 1985 e 1990. Foi, ainda, governador do Maranhão de 1966 a 1971.

O nobre e experiente político poderia apresentar as vitórias que porventura repute como suas, bem como reconhecer seus erros enquanto gestor, redigindo-as. Explicar a tática eficaz, utilizada pelo PMDB, para se manter no poder sem ocupar (de fato) a Chefia do Executivo Federal seria um grande atrativo para confeccionar uma compilação ao povo brasileiro.

Poderia, também, o nobre imortal da Academia Brasileira de Letras esclarecer uma série de fatos negativos a si creditados no que concerne às disputas acirradas pelo poder no Maranhão.

Em minha opinião, um homem público como Sarney deveria deixar um legado escrito para o povo em vez de um livro que, provavelmente, limitar-se-á a assuntos meramente afetivos e de cunho familiar. O povo deixa de ganhar uma vez que somente sua filha se beneficiará do tempo vago no Senado.

Caso Sarney decidisse relatar, de forma pormenorizada, sua versão para tantos fatos controvertidos, quando seu nome foi citado, ora de forma positiva; ora negativa, o Brasil ficaria grato.

Poderia, ainda, o imortal apontar os motivos que o levaram a ser integrante, em 2007, da tropa de choque, que salvou o mandato de Renan Calheiros, Presidente do Senado, à época, e estrela principal do episódio mais indecoroso daquele ano, com amante nua na capa da Playboy, bois voadores e fazendas-fantasma.

Um documentário escrito de sua vida política e suas implicações, no cotidiano de milhares de brasileiros, surtiria efeitos consideráveis. Será que há coragem para tamanho aprofundamento na própria história nacional?

A cada dia, o Brasil avança no que diz respeito ao resgate moral e ético das Instituições. Por outro lado, alguns agentes públicos, exatamente por já terem ou ainda exercerem cargos públicos, precisam passar a vida a limpo, agradecendo ou desculpando-se por seus atos.

O maranhense natural da cidade de Pinheiros disse, em um de seus vários discursos, ao longo de sua carreira: "Não concordo quando se fala na imoralidade do Senado. O Senado é os que aqui estão. Reconheço que, ao longo da nossa vida, muitos se tornaram menos merecedores da admiração do país, mas não a instituição."

Realmente o Senado não pode ser maculado. Precisamos identificar, mesmo que isso nos custe muito, os nódulos individuais que insistem em contaminar uma casa legislativa de suma importância para prosseguimento institucional do país.

Com testamento ou legado, que Sarney possa passar a vida pública a limpo e provar ao país (eleitores ou não) que merece ser citado nas páginas de livros de História.

Aguardemos a licença de Sarney para quem sabe, ele mudar de ideia...

Cláudio Andrade

Um comentário:

Anônimo disse...

Nobre Jornalista Cláudio andrade, achei extremamente interessante sua ideia de Nosso ilustre Senador nos deixar seu legado, mas gostaria que o sr, permitise-me lembra-lo (assim como aos seus leitores), que já temos o Legado do Honradíssimo Senador, no livro "HONORÁVEIS BANDIDOS", cujo autor Palmério Dória, não só "matou a cobra" falando abertamente das falcatruas no Maranhão, como também "mostrou o pau" estampando a cara do "todo poderoso" (Ou bandido???)na capa do livro publicado pela GERAÇÃO EDITORIAL. Eu tenho o livro.

Abraços de seu leitor - colaborador ,

Paulo Sales