quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A Política da ‘Lei dos Meios’ e a relação de dependência da mídia com os Poderes



 Jornal Terceira Via

"Considerada o ‘quarto poder’, a imprensa no Brasil vem passando por uma crise de identidade"


 
O assunto de hoje insurge de uma problemática internacional, envolvendo o conglomerado midiático do Diário “Clarin” e o Governo da Presidente da Argentina Cristina Kirchner.

No país vizinho, o governo de Cristina aprovou em 2009, no Congresso, uma norma denominada “Lei dos Meios”, que limita a quantidade de licenças de rádio e televisão no país. A intenção do governo foi claramente a de quebrar o monopólio dos grupos de mídia e, por conseguinte, restringir a imprensa opositora no país.

O editor geral do Diário “Clarín” (Ricardo Kirschbaum) disse segunda-feira (15 de outubro), no Portal de Notícias G1, que está temeroso que o Jornal perca suas concessões públicas após sete de dezembro, quando entra em vigor a chamada “Lei dos Meios”.

No Brasil, a situação muda em termos operacionais, mas a intenção final da maioria dos governos é a mesma. Em nosso país, o que é mais preocupante é a dependência econômica com o Poder Público de diversos meios de comunicação.

Considerada o ‘quarto poder’, a mídia no Brasil vem passando por uma crise de identidade. Devido aos problemas de ordem econômica e de gestão, vários grupos de mídia atrelam-se aos Governos via contratos de propaganda (na maioria, são acordos políticos) tornando-se uma extensão das Secretarias de Comunicação das Prefeituras ou dos Governos Estaduais.

Não nos custa lembrar que, em nosso país, centenas de políticos são detentores de concessões públicas de Rádio e Televisão, uns até de forma oficiosa. Em vez de utilizá-los para o bem social, os políticos valem-se desses meios para se perpetuarem no poder (com ou sem mandato) e destruírem eventuais adversários. Assim, desvirtuam o real dever da imprensa, que é o de informar.    

Essa relação é tão desonesta com o público ao ponto de, em certos municípios brasileiros, alguns Jornais e Rádios servirem apenas como suporte político. São sustentados por repasses de empreiteiros que, após vencerem licitações nas Prefeituras e nos Governos Estaduais, sustentam financeiramente os meios de comunicação que servem ao grupo político que se encontra no poder.    

Isso se torna ainda mais temerário quando grupos religiosos começam a interagir nessa seara. Quando isso ocorre, surge o tripé formado pela religião/política/mídia que, ao meu sentir, é devastador para a sociedade. Reporto-me com preocupação a essa relação triangular, pois quando essa união oportunista se faz, os integrantes componentes (da religião, política e mídia) deixam suas funções típicas para servirem a interesses políticos, o que é grave para um Regime Democrático.

Não restam dúvidas de que a mídia avançou muito no aspecto liberdade de expressão, notadamente após os anos de ‘Chumbo’, da Ditadura Militar. Seria também uma falta imperdoável não reconhecer o trabalho investigativo da mídia em momentos de relevância nacional como o caso ‘Collor’ e o ‘Mensalão. Todavia, a dificuldade que muitos meios de comunicação possuem de se manterem em seu formato original (receitas originárias) furta a sociedade de informações desvinculadas e descomprometidas.

A relação comercial entre o Poder Público e a mídia privada pode até existir, mas deve ser salutar e ter como escopo uma sociedade bem informada. Precisamos, cada vez mais, de informações e de acreditarmos no que estamos lendo.

Nada impede essa relação Público/Privado, desde que a essência jornalística, que é a informação, com a oferta do contraditório, não seja mutilada. 

Lembrem-se: a OPOSIÇÃO é salutar e não há GOVERNO sem ela, logo cabe a mídia, o papel de contraponto para que tenhamos uma formação de opinião que nos ajude a separar o joio do trigo.

Cláudio Andrade

2 comentários:

CARLOS RIBEIRO disse...

Dr. Claudio, excelente analise.

É fato sim, essa dependência economica, de grande parte da velha midia,brasileira, principalmente, com os Poderes constituidos, a saber: prefeituras e governos estaduais.

De resto, a utilização diaria desses meios de comunicação, gera a chamada, propaganda extemporânea, onde os políticos detentores de tais veículos de comunicação de massa, geralmente, analiquilam seus adversários políticos,e, em contrapartida se apresentam como "DEUSES POLÍTICOS".

Anônimo disse...

Prezado Dr. Cláudio,

Conforme comentei em outra postagem (Deputado quer acabar com a prova da OAB), sou um frequente leitor do seu blog, acho as matérias muito interessantes e acabo ficando tentado em comentar.
Entendo que algumas profissões deveriam ser mais respeitadas, principalmente a do magistério, pois um Professor faz um "Doutor", é a base de tudo.
Outra seria o Médico, que tem por objetivo salvar vidas.
Agora, no mesmo sentido temos a imprensa, que vai em busca da verdade para que a população não viva à ignorância da realidade. Porém, deve a mesma ser exercida com absoluta responsabilidade, imparcialidade e até mesmo independência, sem que por trás dos meios de comunicações haja "A", "B" ou "C", que lavam seus dinheiros, muitas vezes oriundos de aquisição ilícita e que acabam inclusive fazendo o papel de Editor Chefe.
A imprensa em seu dever de informar, deve manter os limites de suas reportagens, para que não seja extrapolada o direito alheio, observando a cautela, para que não haja evasão de uma linha tênue que divide Ética e Sensacionalismo.
Devem os meios de comunicações se ater em divulgar fatos e verdades, e não fazer pré julgamentos ou até mesmo pré condenações, ferindo de morte o Devido Processo Legal, Ampla Defesa e Contraditório, como corriqueiramente ocorre nos programas do grande "especialista, Doutor e jurista" (ironicamente falando) do José Luiz Datena, que aniquila com a real função do jornalismo brasileiro, semeando apenas o ódio e a intolerância nas pessoas que assistem aos seus programas.
Novamente o parabenizo pelos seus posts.

Atenciosamente.