O momento é de reflexão diante das inúmeras manifestações que sacudiram nosso país nos últimos dias. Precisamos identificar o nascedouro desses levantes populares e buscarmos a cura.
Em que pese um momento social turbulento pelo qual passamos, há parlamentares usando o tempo de trabalho para aprovar projetos que visem apenas aos seus interesses a fim de rechaçarem opiniões que vão de encontro aos seus dogmas religiosos.
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara, presidida pelo Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), aprovou na última terça-feira (18/06) proposta que visa a alterar trecho da Resolução do Conselho Federal de Psicologia de 1999.
Referida Resolução versa sobre a vedação aos profissionais da área de Psicologia de colaborarem com eventos e serviços que ofereçam tratamento e cura à homossexualidade, baseando-se na linha da OMS (Organização Mundial da Saúde) que, desde 1990, retirou o homossexualismo da lista de doenças mentais.
Pejorativamente apelidado de "cura gay", esse projeto seguirá ainda para duas Comissões antes de ir a Plenário.
Quando nos deparamos com expedientes parlamentares dessa natureza, nos indagamos o quanto de desperdício houve sobrepujando-se o interesse privado sobre o público em questão meramente pessoal.
Enquanto isso, a Revista Superinteressante noticiou que, nos Estados Unidos, a Ciência avançou na luta contra o vírus HIV. Virologistas anunciaram o primeiro caso de cura funcional da AIDS em uma criança.
O anúncio foi feito pela Dra. Deborah Persaud, da Universidade Johns Hopkins, condutora da investigação que considerou a criança curada.
Em São Paulo, tratamento com células tronco (desenvolvido pela USP de Ribeirão Preto) fez com que o pâncreas de um estudante voltasse a produzir insulina. Evolução tida como improvável até bem pouco tempo. Há quase seis anos, o estudante não faz mais uso das injeções de insulina.
Há décadas, a Aliança para a Investigação Lupus (ALR) dedica esforços nos programas de pesquisa, realizando várias descobertas em relação ao lúpus, ajudando profissionais da área médica a desenvolverem maior compreensão da doença, o que levará a um melhor atendimento ao paciente.
Esses são alguns dos desempenhos científicos sérios, que visam a curas que reputo necessárias e de cunho coletivo. Vários desses trabalhos com a participação (diga-se de passagem) de gays nas equipes de pesquisa.
Um projeto que busca cura para o que não é considerado doença é quase um piada legislativa. Isso porque parlamentares invadem a seara que não lhes compete, ou seja: desejam definir o que é doença quando isso cabe a profissionais da área da saúde. Discriminação e preconceito não são determinantes do que é doença.
Certo que o Congresso Nacional (Câmara e Senado) deve criar leis que salvaguardem os direitos da sociedade e não que disponham sobre a origem de uma orientação homossexual.
A hora é de união por um país melhor e não por uma nação idealizada na mente de alguns. O desejo de mudança tem que continuar embasado em sérias reivindicações que desencadeiem melhorias urgentes mormente na área da Saúde.
Por meio dessas lutas, estaremos na iminência de desmistificar o Brasil como o país do carnaval. Caso o Legislativo continue aprovando questões impertinentes como o esse famigerado projeto, sairemos do estigma do país do futebol para o país dos gays.
A luta a qual estamos presenciando é por questões de direito indisponível e não se deve perder o foco com o legislativo brincando de médico.
Cláudio Andrade
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