quinta-feira, 3 de abril de 2014

O comportamento das mulheres e o estupro


Santo Agostinho é uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do Cristianismo no Ocidente. Já dizia ele que a esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem. “A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como elas são; a coragem, a mudá-las."

Na última quinta-feira (27), foi realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) - Órgão do Governo - uma pesquisa que constatou que dos 58,5% dos entrevistados 35,3% concordam totalmente e 23,2% parcialmente com a tese: "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros".

Referido estudo também demonstrou que dentre 65,1% dos questionados (42,7%) concordam totalmente e 22,4% parcialmente com a tese de que mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas.

A pesquisa ouviu 3.810 pessoas entre maio e junho de 2013, em 212 cidades. Do total de entrevistados, pasmem: 66,5% eram mulheres, o que acende o sinal vermelho acerca do real sentido histórico e costumeiro do sexo feminino para a nossa sociedade.

Entendo que o resultado indicado é decepcionante. Não restam dúvidas de que Institutos de pesquisa equivocam-se e quando as encomendas são feitas por pessoas jurídicas de caráter econômico (interessados em ‘comportamento’), mais dúvidas surgem.

Mesmo assim, é alta a porcentagem de pessoas que pensam ser a exposição feminina uma porta larga para ações físicas forçadas. E mais: causa-nos estranheza que uma sociedade - que brada ao se intitular como feminista - tenha tal concepção.

Não faço a menor ideia se o número de estupros seria reduzido caso as mulheres não usassem saias ínfimas e generosos sutiãs.

Sabem por quê? Porque também não posso afirmar se os homens parassem a ostentar relógio de ouro ou um Camaro amarelo - em áreas consideradas perigosas - atrairiam menos os assaltantes.

Antes do debate acerca do estupro, o instituto poderia questionar essas mulheres se elas ainda se consideram mero objeto sexual ou se conseguiram se impor diante de homens truculentos, alcoólatras, pedófilos e homicidas.

A figura da mulher, assim como a do homem, é atraente. Somos por essência seres que buscam desejos e um deles é o sexual em sua gama de variedades.

A linha tênue que existe entre o prazer consentido e o crime do sexo forçado deve ser medida em conformidade com o amadurecimento da mulher e da sociedade.

A nossa cidadela tupiniquim ainda é machista e nela vive parcela considerável de pessoas que estão acostumadas a ‘pegar’ em detrimento de pedir. Roubar ao invés de conquistar.

Nessa linha disforme de atuar, nascem as aberrações que algumas pesquisas contestáveis insistem em nos apresentar como verdade absoluta.

Mesmo assim... Sei lá! Continuo apreciando mais um bom decote do que uma burca.

Cláudio Andrade

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