O famoso escritor e ensaísta italiano Umberto Eco (1932-2016) escreveu um romance denominado “Número zero”.
Nele, Eco descreve a redação imaginária de um jornal, criado para desinformar, difamar adversários, chantagear, manipular, elaborar dossiês e documentação secreta. “Para mim, é um manual da comunicação de nossos dias”, sustenta Roberto Saviano, renomado jornalista antimáfia da Itália, que vive sob escolta pelas ameaças de morte que recebe das organizações criminosas.
Em uma conversa entre Eco e Saviano, publicada pela revista L’Espresso, o semiólogo afirma que não quis escrever um “tratado de jornalismo”, mas contar uma história sobre os limites da informação, sobre como funciona uma máquina de denegrir e não tanto sobre o trabalho de informar.
“Escolhi o pior caso. Quis dar uma imagem grotesca do mundo, ainda que o mecanismo da máquina para sujar, lançar insinuações, já fosse usado durante a Inquisição”, comentou Eco.
Caro leitor, partindo da premissa de Eco, nunca a mídia foi tão importante para que a sociedade possa entender os motivos pelos quais estamos imersos em um dos mais críticos momentos da história brasileira.
Centenas de meios de comunicação estão tratando a situação em que o Brasil passa, de forma responsável, respeitando o contraditório e a ampla defesa.
Ofertam aos entrevistados, acusados, réus e autores o devido espaço para que o consumidor de notícias tenha a certeza que está lendo um espaço de mídia e não um mercadinho que vende de tudo, inclusive as matérias e seus jornalistas.
O lado ruim do jornalismo é baixo. Despreocupados com a informação e com os reflexos que uma notícia tendenciosa, ou mal aprofundada, pode causar, a mídia/dinheiro solta o que interessa aos seus cofres, doa a quem doer.
Elas são compostas por uma estrutura que vende capa e conteúdo de acordo com a verba que lhe é ofertada. São viciadas no poder e capazes de transformar sol em lua, dependendo do interesse.
Outro ponto que precisa ser lembrado, acerca da mídia que aluga canetas, é que há a possibilidade de se ignorar ações e fatos positivos pela simples vaidade de não conseguir, dos realizadores das ações, o ato de se dobrarem e se renderem a um grupo determinado de comunicação.
Não restam dúvidas de que há muito o que avançar e que a mídia e todos os seus tentáculos operacionais serão ainda mais eficazes e que muita sujeira será descoberta através do valoroso trabalho desses jornalistas brasileiros.
Contudo, as pessoas precisam ser ouvidas quando citadas e os fatos relevantes publicados após minuciosa apuração. Vender matéria e oferecer jornalista para o que pode ser errado se transformar em algo correto, não é coisa do BEM. Trata-se do mal encarnado nas entrelinhas de um periódico.
Cláudio Andrade
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