“Um “capo” não emite cheque, não manda e-mail, não telefona, não reúne...”. A observação do procurador Roberto Gurgel, dita na época do julgamento do ‘Mensalão’, prima pela exatidão.
Os grandes “capos” da política brasileira atuam por trás das cortinas. Com ou sem mandato, constroem, ao longo da vida pública, uma rede de colaboradores dentro dos poderes constituídos. Um aparelhamento de contatos que lhes confere um poder invisível aos olhos da sociedade, mas que é corrosivo e extremamente eficaz.
São homens públicos que trabalham com informações privilegiadas oriundas de diversos setores públicos. Ambientes inicialmente criados para que o sigilo informativo seja a premissa maior. No entanto, há sempre aquelas pessoas que não resistem a uma interferência externa, a propostas de um agente enviado ou à oferta de benesses tentadoras. Essa falha nem sempre é tão bem estudada.
Os “capos” avaliam as fraquezas dos seus adversários e formulam ricos dossiês para que o processo de captação seja facilitado. Para isso, valem todos os procedimentos, inclusive gravações clandestinas, achaques, notas plantadas na mídia, e mentiras, muitas mentiras, divulgadas à exaustão.
Em todo o nosso território nacional, inúmeros inquéritos e ações penais propostas pelo Ministério Público estão paralisados diante da escassa falta de material para a condenação, ou seja, as provas existem, mas não aparecem.
As autoridades públicas sabem da existência do mentor. O sistema de provas contra o réu é vasto, mas falta a “liga”. O elemento de ligação entre o integrante da ponta da pirâmide e o delito não aparece e, quando há sinais de conexão, esses são tão frágeis a ponto de ser quase certa a absolvição do político acusado.
Assim, muitos desses políticos alimentam suas redes de influência, angariando mais “amigos” para que a retaguarda esteja sempre protegida. Nesse sistema, não deve haver surpresas nem imprevistos. Afinal, o cerne do trabalho é isolar o líder, o chefe, o “capo” político.
Em diversos sistemas, os tentáculos dos chefes políticos são tão extensos que a figura do líder torna-se discreta a ponto de sua existência ser quase uma “lenda urbana”.
Nesse contexto, enquanto os atores coadjuvantes do processo eleitoral são condenados, os orquestradores desfilam pelos corredores, distribuindo sorrisos e proferindo palavras “de efeito” quando a moral e a ética são, então, relevadas.
Infelizmente, grande parcela de nossa sociedade votante confunde sinceridade com honestidade. Se você é um eleitor e pensa que os políticos oportunistas iludem com mentiras rebuscadas e histórias incríveis, está enganado. Os melhores mentores utilizam uma fachada amena e imperceptível que não chama a atenção para si mesmo.
Os “capos” sabem que gestos e palavras exageradas despertam logo a desconfiança. Por isso, envolvem seus alvos naquilo que é familiar e inofensivo e, muitas vezes, banal.
O Brasil dos “capos” ainda existe de forma contundente e, com ele, há centenas de redes estruturadas que desequilibram o pleito eleitoral. Assim, muitos candidatos são eleitos à margem de um processo psicológico ilícito, quando o eleitor é ludibriado.
Depois de eleitos, esse processo psicológico persiste, não mais para angariar o voto, mas para esconder o que fazem por trás das cortinas.
Dessa forma, o lema dos “capos” continua em vigor e suas digitais são apagadas. Às vezes, pela cobertura de sua equipe, outras, pelo esquecimento do cidadão eleitor.
Cláudio Andrade.
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