quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Culto ou debate?


Ontem, o senador da República e candidato a governador do Estado do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, esteve no bairro da Lapa, em Campos dos Goytacazes, para chancelar o apoio do ex-governador e candidato derrotado Anthony Garotinho.

A atitude do sobrinho de Edir Macedo é temerária uma vez que o fato de o primeiro turno ter sido finalizado não afasta - tampouco retira - a imagem de rejeição já imbuída em Garotinho, um dos motivos de sua derrocada.

O senador cumpre um acordo velado e selado antes do fim da primeira etapa em que os dois, como adolescentes fossem, e diante do primeiro amor, combinaram que estariam juntos para o que desse e viesse independente de quem avançasse.

Crivella cumpriu o prometido. Situação inversa me causaria dúvidas, pois Garotinho e acordo são como água e óleo: não combinam.

Diante da união consumada, passo a ter receio de que tenhamos a chance de vislumbrar - pelos meios de comunicação - um culto em detrimento de um debate.

Homossexualidade, aborto, drogas, família tradicional e o diabo deverão estar na pauta em vez de filas nos hospitais públicos, das ‘pesadas’ cargas tributárias, da dívida do Estado, das milícias e do aprimoramento das UPPs.

Aqueles que pensam que as Igrejas não participam de processo político, estes não enxergam a história do mundo com seriedade.

Assim como as indústrias de armas, os ruralistas, os bancos e as indústrias de cigarro têm os seus candidatos. As Igrejas também fazem a sua ‘fé’ em nomes que irão representar seus interesses.

Lógico que alguns se dizem religiosos e, às vezes, até reacionários (todos os segmentos possuem os seus), na busca pelo filão eleitoral. Afinal, determinados temas, uma vez transformados em bandeira, atraem público, debates e votos.

Os debates entre Pezão e Crivella não podem se transformar em uma caça aos conceitos da vida privada. O cidadão contribuinte paga pelo serviço público e não pelas ações privadas dos integrantes de uma sociedade.

O momento é de extrema importância e há necessidade de qualificarmos os discursos, trazendo para o eleitor repostas plausíveis e pautadas na coerência.

Não considero louvável que temas públicos com necessidade de resolução rápida sejam substituídos por assuntos que devem ser resolvidos pela famílias, dentro de seus ciclos; sejam tradicionais, recompostos ou de nova roupagem.

Queremos de Pezão e Crivella propostas que façam o cidadão mais livre e consciente de que pagar tributo seja um ato de contribuição com o Erário e não de lesão ao patrimônio privado.

A Religião deve ser tratada como algo opcional e subjetivo para que os debates não se transformem em uma ‘guerra santa’ em que muitos se aproveitam da boa e da má fé alheia para angariarem votos.

Cláudio Andrade

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