quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Quem não gosta de pacientes com câncer



Por Herbert Neves

Há 38 anos, a Medicina de Campos cumpria papel básico no atendimento a pacientes, sendo que, qualquer situação que necessitasse de mais recursos, era encaminhada ao Rio de Janeiro e, em alguns casos até São Paulo – causando, com isso, desconforto à pessoa necessitada e, consequentemente, desestruturação familiar no acompanhamento do ente querido.

O grupo fundador do IMNE instalou em nossa cidade um serviço de medicina nuclear que, na época, constituía vanguarda até nos grandes centros. Logo a seguir, passamos ao tratamento de câncer para toda a região, com quimioterapia especializada e radioterapia. A hemodiálise foi iniciada e os pacientes renais contemplados com o tratamento no local de origem. Inauguramos o primeiro serviço de ultrassonografia quando, ainda, tudo era visto em preto e branco. Era a tecnologia da época.

Prosseguimos em nossa caminhada com área de internação e vários outros equipamentos, montamos a Clínica Cirúrgica e Maternidade Lilia Neves, partimos para a construção do Hospital Dr. Beda, dando destaque especial ao ponto de partida quando o Oncobeda surgiu, ou seja, uma unidade distinta para atendimento especial aos pacientes oncológicos. Obviamente, esse é um resumo de uma história em que todos os percalços não foram citados porque não seria pertinente à matéria em questão.

Vou relembrar agora, um episódio ocorrido em setembro de 1979 que terá correlação com a vivência dos dias atuais. Naquela ocasião, recebemos no IMNE a visita do então ministro da Previdência e Assistência Social, Dr. Jair Soares, em evento organizado pelo falecido deputado federal Alair Ferreira. Coube a mim, como sócio participante, a apresentação das dependências do IMNE ao ministro visitante. Ao chegarmos à área física onde funcionava a hemodiálise, recebi dele a negativa de conhecer aquela nossa instalação específica e acrescentou ao fato: “Aí eu não entro. Essa especialidade representa, hoje, o rombo na Previdência Social. Eu não gosto de renais crônicos.”

Fui adjetivado em minha vida pessoal, de várias formas, algumas honrosas, outras nem tanto, mas pelo menos em um desses adjetivos consegui praticamente a unanimidade; de ser belicoso.

Retruquei de imediato: “Sua conduta seria a mesma, se a senhora sua mãe estivesse sendo submetida a esse tipo de tratamento?”

A visita foi encerrada sem mais delongas e, ainda hoje, algumas testemunhas vivas desse ocorrido por vezes o relembram.

Transpondo aos dias atuais, vou falar um pouco sobre oncologia clínica, que em palavreado mais didático representa o tratamento do câncer em suas diversas modalidades. É uma especialidade igualmente onerosa - como a hemodiálise, citada anteriormente. Seja somente na quimioterapia e / ou radioterapia exige-se uma equipe multidisciplinar para que resultados favoráveis sejam alcançados. É necessário o adequado apoio para internação, terapia intensiva, cirurgia especializada, suporte nutricional, fonoaudiologia, fisioterapia, assistência social, psicologia, atividades médicas nas diversas especialidades, enfim, tudo quanto é necessário ao desempenho da boa Medicina e do respeito ao ser humano.

Somente no ONCOBEDA (Unidade do Grupo IMNE que se destina ao tratamento do câncer), a equipe multidisciplinar é composta de 96 integrantes visando desempenhar um trabalho sério, de dedicação e adoção dos pacientes necessitados.

Digo adoção, pois esse paciente fica sob nossa responsabilidade desde o diagnóstico até a conclusão do seu tratamento. Não é demais lembrar que quando se trata câncer, trata-se também a família, sendo que, muitas vezes, o apoio psicológico é estendido aos familiares.

Falei recentemente que, se tivéssemos por parte dos gestores municipais a responsabilidade social do pagamento dos serviços prestados nos prazos acordados, nossa equipe estaria apta a desenvolver um trabalho referencial no tratamento do câncer equivalente ao que é feito em Barretos/SP e no município de Muriaé/MG, próximo daqui.

Vivemos dependentes da indústria farmacêutica multinacional e da tecnologia desenvolvida em outros países. Eles não aceitam como desculpa para a manutenção do fornecimento de matéria-prima, que a Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes esteja olvidando seu compromisso, que deveria ser precípuo, do pagamento pré-acordado dos serviços prestados.

As desculpas para essa falta de compromisso são as mais variadas - passando por extravio da fatura apresentada, atraso na conferência da mesma fatura, falta de assinatura de concordância da Secretaria Municipal de Saúde, ausência de ordem específica de pagamento da secretaria responsável, entre outras.

Isso ocorre em uma cidade milionária que, atualmente, dispõe em seu caixa de mais de R$ 350 milhões.

Recentemente, nossa presidente Dilma Rousseff determinou que todo paciente com câncer deverá ter seu tratamento iniciado em até dois meses após o diagnóstico. Essa medida só seria eficiente se tivesse como complemento um caráter punitivo, estabelecido em lei, para o gestor municipal.

Voltando ao início da leitura quando o Ministro Jair Soares - em uma atitude repulsiva e desumana - disse não gostar de renais crônicos, advém em mim uma curiosidade: Quem dentro de nossa querida Campos dos Goytacazes vai ter a coragem de dizer, em atitude igualmente repulsiva - mas que vem sendo colocada na prática de nossos dias - EU NÃO GOSTO DE PACIENTES COM CÂNCER?

Afinal, o que é bom de verdade tem que ser bom para todos.
Herbert Sidney Neves

5 comentários:

Anônimo disse...

Essa família não gosta de nada que não tenha POLITICAGEM.

Anônimo disse...

Minha pergunta é: Eles gostam de algum tipo de paciente?

Nem de criança esse governo gosta, basta irmos marcar médico no "centro de referencia da criança e do adolescente que veremos que temos que chegar lá as 4h (madrugada), pois quem chega as 7h, já não consegue vaga.

Anônimo disse...

Eles deviam ter uma aula de competência e gerência em saúde com DR.Herbet Sidnei,este sim merece aplausos.

Anônimo disse...

Dr Herbert, nós filhos de Layse Cardoso seremos sempre gratos........ sem mais palavras, só OBRIGADA!

Anônimo disse...

Dr Herbert, nós filhos de Layse Cardoso seremos sempre gratos........ sem mais palavras, só OBRIGADA!