Jornal Terceira Via
"Uma Operação como a Porto Seguro não nasce no quintal de casa como se uma erva daninha fosse"
O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu ontem (terça-feira dia 4), a deflagração da Polícia Federal, na Operação Porto Seguro, que descortinou um grande esquema de eventual venda de pareceres técnicos realizados em Órgãos Públicos.
Cardozo disse, em várias entrevistas, que não há possibilidade de a Polícia Federal, que é (diga-se de passagem), subordinada ao seu Ministério (Justiça), ter agido sob “orientação política”.
Todavia, o que nos causa perplexidade é a seguinte resposta dada pelo Ministro às Comissões de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO) e de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) da Câmara Federal: “as informações passadas eram genéricas como devem ser. Passei para a presidenta Dilma Rousseff a informação genérica, não poderia informá-la mais do que eu não sabia”. Afirmou ele.
Pois bem. A cada dia, surpreendo-me com as frases de efeito de alguns políticos quando estão em situação de extremo desconforto. Difícil acreditar que José Eduardo, responsável pela pasta da Justiça, receba de seus subordinados informações apenas genéricas de uma Operação de grande porte e envolvendo integrantes do alto escalão do Governo.
Além disso, mais surreal ainda é ter que acreditar que, após receber informações ‘genéricas’, ele não averiguou os dados e repassou para a Presidente tais como ditas.
Uma Operação como a ‘Porto Seguro’ não nasce no quintal de casa como se uma erva daninha fosse, pois para ser desencadeada uma Operação daquele porte, foram feitos vários procedimentos investigatórios. Logo, reputo impossível que José Eduardo Cardoso soubesse apenas de forma superficial o que iria acontecer, como assim noticiou.
Para que não sejamos intolerantes com o Ministro, admitiremos que isso realmente fosse possível. Ou seja, Cardoso não sabe de nada e quando retornou à Brasília, tomou conhecimento do ‘furacão’ que havia sido instalado na capital federal devido à Operação Porto Seguro.
Sendo isso uma ‘verdade’, peço licença aos leitores para concluir que estão tentando ‘fritar’ o ministro. Volto a repetir. Não estamos falando de uma operação, no sul do Pará, para prender grileiros de terras. Trata-se de suposta venda de pareceres em que são investigados a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, e o ex-advogado geral da União Adjunto, José Weber Holanda Alves.
Uma operação dessas em iminência de acontecer e o nobre ministro é informado apenas de forma genérica?
Não restam dúvidas de que as operações da Polícia Federal estão prestando um relevante serviço à sociedade brasileira. São triunfos que ajudam muito a passar o país a limpo. Vários agentes públicos, ao longo dos últimos dez anos, foram presos, condenados e muitos deles, excluídos da vida pública devido à coleta precisa de dados feita pela Polícia Federal.
Porém, é difícil digerir que as grandes movimentações, que podem gerar efeitos políticos de grande repercussão, não sejam monitoradas de forma cirúrgica pelo ministro da Justiça, seja ele qual for. Essa vigilância ocorre sim, pois quando os nomes investigados chegam ao Presidente da República, há a devida preparação para “cortar na própria carne”. Afinal, integrantes de confiança do alto escalão, quando envolvidos, precisam ser sacrificados em nome da estabilidade e também para que a oposição não forme discurso.
Infelizmente, essa NÃO será a última operação que descortinará mais uma trama envolvendo pessoas públicas e privadas em busca do dinheiro fácil.
Rogo que a Polícia Federal possa, cada vez mais, atuar de forma livre, salvaguardando os direitos e garantias individuais; uma Polícia Federal que tenha toda a estrutura necessária para desempenhar um papel firme e com investigações sóbrias.
Quanto ao ministro Cardozo, (caso continue no cargo) depois dessa ‘gafe’, que possa estar mais atento no que concerne às operações que estão em curso.
Cláudio Andrade
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