Desde o início da Operação Lava Jato em 2014, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal fizeram um excelente trabalho desmantelando os esquemas de corrupção das empreiteiras e do frigorífico JBS. A pergunta que fica cada vez mais evidente, no entanto, é: e os demais?
Num sistema eleitoral viciado como o brasileiro, em que boa parte das doações de campanha eram pagamentos por “serviços prestados” ou “créditos por favores futuros”, não é razoável supor que apenas Joesley Batista, Marcelo Odebrecht e outro punhado de empreiteiros pagassem propinas aos políticos.
Basta observar com atenção operações injustificáveis do BNDES (incluindo outros frigoríficos além da JBS e outros setores), os aportes dos fundos de pensão que colaboraram para o rombo em suas contas ou ainda medidas tributárias que favoreceram diversas empresas nos últimos anos para perceber que tem gente graúda escapando das mãos das autoridades.
Preso no fim de 2016 e liberado horas depois pelo juiz Sergio Moro em razão da doença de sua esposa, que morreria de câncer tempos depois, o ex-ministro Guido Mantega é um dos que mais podem colaborar com as autoridades se finalmente decidir falar. Pessoas que conviveram com ele de perto dizem que Mantega era muito mais esperto, ambicioso e "ciumento" de sua influência no governo e no PT do que aparenta.
Mais longevo ministro da Fazenda da história, Mantega vivia rodeado por um grupo empresários, da qual faziam parte Joesley e Odebrecht, mas havia também representantes dos bancos, da indústria automobilística, do varejo, das companhias aéreas, entre outros. Vale ressaltar que boa parte desses setores foi amplamente beneficiada pelo governo federal.
Inúmeros delatores já colocaram Mantega no centro de pelo menos três esquemas de corrupção: obras superfaturadas pelas empreiteiras, liberação de aportes pelo BNDES e sentenças favoráveis no Carf (conselho que avalia as pendências tributárias entre a Receita e os contribuintes). Enquanto o primeiro já parece desmantelado, o segundo e o terceiro ainda estão no início das apurações.
Deflagrada no início do mês, a Operação Câmbio, Desligo, que prendeu mais de 50 doleiros, pode ajudar a expor de vez as vísceras de uma parcela corrupta do empresariado brasileiro, que, se de um lado sempre sofreu extorsão de políticos que colocavam dificuldades para vender facilidades, por outro aproveitou o esquema para ganhar muito, mas muito dinheiro.
Raquel Landim
Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política.
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