Jornal Terceira Via
"Infelizmente, o conceito de serviço público, no nosso país, está associado à má prestação"
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais divulgou o índice de escolaridade básica, referente ao Ensino Fundamental, das escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro. A nota do município de Campos dos Goytacazes foi 3.6, sendo a mais baixa dentre os municípios do Estado. Trata-se de um dado preocupante, partindo do princípio de que a Educação é um dos pilares responsáveis pela formação ética e moral do cidadão.
A intenção não é de marcar posição contrária ao Sistema Educacional da Secretaria Municipal de Campos. Todavia, a nota creditada ao nosso ensino público merece uma posição contundente do atual governo.
Planos de ensino, remuneração do corpo docente, material didático e qualificação dos profissionais são tópicos que clamam por uma reavaliação enérgica. Afinal, o fato de o município de Campos dos Goytacazes encontrar-se em uma posição desfavorável, dentre os demais municípios, é a constatação de que a reformulação dos métodos adotados é algo urgente e que deve ser imediatamente priorizado pela atual Administração. Vale dizer que o nosso município é considerado o mais rico do Estado, depois da Capital, o que torna esse dado ainda mais preocupante, causando, inclusive, indignação.
Segundo o site da Câmara dos Vereadores, o projeto do Executivo, enviado àquela Casa Legislativa, previu para o corrente exercício financeiro (2012), R$ 1.995.709.484,87 (um bilhão, novecentos e noventa e cinco milhões, setecentos e nove mil, quatrocentos e oitenta e cinco reais e oitenta e sete centavos) em orçamento.
Desse numerário, foi estipulada para a Secretaria Municipal de Educação a quantia de R$ 248.593.114,62(duzentos e quarenta e oito milhões, quinhentos e noventa e três mil, cento e quatorze reais e sessenta e dois centavos). Trata-se, sem dúvida, de uma vultosa verba que, diante da situação desprestigiada constatada pelo instituto acima referido, enseja uma minuciosa prestação de contas.
A população de Campos dos Goytacazes deve estar ciente desse dado constatado (índice 3.6) e indagar o porquê dessa colocação. O ensino público ainda é a única saída para milhões de brasileiros que, detentores de renda baixa, sonham com uma formação técnica ou acadêmica de qualidade. Para a efetivação desse ideal, a Administração deve adotar medidas eficazes para que esse sonho não se torne mais um dentre os tantos outros que a população carente possui.
Enquanto amargamos esses 3.6, o Colégio Estadual Waldemiro Pita, do município de Cambuci, conquistou, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEP), o primeiro lugar no Estado do Rio de Janeiro e o segundo no Brasil. Referido Colégio é situado em Monte Verde, distrito da zona rural, no Noroeste Fluminense. Sua louvável posição desbancou instituições educacionais de renome como os colégios Pedro II e o Cap-UFRJ.
Infelizmente, o conceito de serviço público, no nosso país, está associado à má prestação. Todas as ações produzidas pela Administração Pública nascem sob o rótulo da desconfiança. Uma outra triste constatação.
Na qualidade de professor universitário (com dez anos de exercício no magistério), atesto como grave o estado do quadro educacional em Campos dos Goytacazes. Minha opinião não possui viés político-partidário, tratando-se de constatação fática, pautada, notadamente, em dados públicos divulgados em todo o território nacional, como os acima demonstrados.
Penso que, se não houver uma ação enérgica nas diretrizes de ensino em nosso município, a relação trabalho/qualificação restará comprometida, inclusive quanto à cobertura de vagas oferecidas no mercado da região.
O Sistema Educacional deve se fincar em bases sólidas sob pena de comprometer o futuro profissional de um cidadão. Uma educação deficitária, no presente, gera um dano irreparável no futuro. A Administração Pública, em seu atuar negligente, não pode ter a benevolência do cidadão. A formação ética, moral e intelectual é a premissa de um profissional qualificado no mercado.
Não é diferente na política. Isso porque o cidadão que usufrui, hoje, de uma formação moral idônea deve ser o político ou o eleitor de amanhã. Não basta boa educação para o governante do futuro. É preciso boa educação também para aquele que assiste, nos bastidores, o atuar da Administração por meio de seus agentes públicos.
Esse triste índice de nosso município (3.6) traz a certeza de que já há um dano. É preciso mudar este quadro e a população deve cobrar tal posição da Administração. Caso isto não ocorra, estaremos sempre diante de um Sistema Educacional que já nasce morto no sonho do cidadão. Até quando esse ensino natimorto vai perdurar? Fica a pergunta. E vale lembrar: NÃO PODE SER ESQUECIDA.
Cláudio Andrade