O Brasil, apesar de seu crescimento econômico alardeado, tem uma gritante desigualdade social, que podemos constatar de forma nítida. O cerne desse artigo refere-se aos caminhos aos quais a grande parcela da população é direcionada, devido à sua dependência estrutural em relação aos serviços prestados pelo poder público.
Constantemente, presenciamos postulantes a cargos públicos ou políticos detentores de mandato transitarem pelas comunidades carentes para participar de inaugurações e lançamentos de projetos sociais. Como exemplo desses projetos pode-se citar: casas populares, cheques, bolsas, dentre outras composições tidas como medidas que integram o cinturão de contenção de pobreza disponibilizado pelos governos Federal, Estadual e Municipal.
Nessas recepções organizadas pelo cerimonial do candidato (em parceria com os cabos eleitorais) é corriqueiro encontrar crianças tocando tambores ou dançando capoeira. Um verdadeiro show caseiro, que acontece diante dos aplausos efusivos dos visitantes em ato similar à chegada dos europeus às terras das Américas.
Todavia, essa classe política se esforça para esquecer que os menos favorecidos, na sua esmagadora maioria, almejam por um novo status.
Essa esmagadora maioria busca, nos estudos, a dignidade que os afaste da qualidade de reféns dessas ações paliativas proporcionadas pelos poderes públicos. São homens, mulheres e crianças que preferem vestimentas e salário digno e não os serviços temporários e assistência. Mesmo assim, determinados políticos nutrem, nessas camadas deficitárias, a ideia do mínimo existencial ocasional que não é aquele previsto na Constituição.
Trata-se do Mínimo Ordinário, que mascara a fome, a falta de remédio, de saneamento básico, e de segurança. Os tambores tão bem tocados, aliados à plasticidade da capoeira servem como válvula de escape. Muitos anfitriões estão ali com fome e frio mas tocando e rindo: talvez rindo de si próprios, de suas mazelas e de suas amarguras.
Os menos abastados desejam ter o tênis da moda, almoçar em bons restaurantes, casar na igreja, (ela de branco e ele de terno “senador”) e almejam que os filhos tenham uma qualificação profissional. Esses anseios (da maioria inclusa nos programas de políticas assistencialistas) devem ser obtidos por meio do trabalho, pois eles sonham com um ofício oriundo de uma boa qualificação remunerada. Repise-se: ninguém almeja viver sob a dependência do poder público.
As variáveis socioeconômicas são muito importantes dentro de um processo político. Renda, escolaridade, local de moradia e ocupação traduzem em qual patamar de independência se encontra uma população. Quanto mais escolarizado é o eleitor, pior para um governo assistencialista.
Por fim, não se pode afirmar que a garantia da felicidade está de pleno aliada à estabilidade econômica. Contudo, uma coisa é certa: O único bem que os governos não conseguem retirar de nós é o conhecimento. Até os tambores, um dia, eles irão retirar.
Claudio Andrade
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