domingo, 12 de junho de 2011

DEMOCRACIA FORTE POR ARTHUR VIRGÍLIO



DEMOCRACIA FORTE

*ARTHUR VIRGÍLIO
           Lisboa - A queda de Palocci enseja vários significados e interpretações. A começar pela dupla personalidade do ex-Ministro, que carrega dentro de si um lado quase estadista em briga contra o monstro da transgressão ética.
          Caiu o cérebro do governo Dilma. Aquele que sabia pensar o País, em meio à pobreza de quadros reinante na coalisão liderada pelo PT. Tanto melhor se os motivos para o escândalo não tivessem ocorrido. Pior que tudo, porém, seria a presença de figura sem poder real, longe dos tempos breves em que voltou a ser o homem mais poderoso da República.
          Antonio Palocci não se explicou à Nação. A decisão do Procurador-Geral da República não foi forte o suficiente para a operação resgate. A intervenção de Lula e Sarney, deu em nada.
          O Brasil não digeriu o “milagre” da multiplicação do patrimônio no exíguo espaço de quatro anos. Não engoliu o caráter obscuro das “consultorias” que cheiravam – e cheiram – a tráfico de influência. Milhões se mobilizaram para impor seu desejo de justiça contra os sussurros dos tradicionais beneficiários do status quo.
          No meio estava Antonio Palocci, despido de autoridade moral para coordenar um governo. Num corner, Lula, Sarney, Temer e outros. No outro corner, a oposição com seus discursos e, sobretudo, a manifestação do facebook, os artigos dos blogueiros, os torpedos dos twiteiros. Foi aí a diferença: o mesmo espírito que, no Egito, apeou Mubarak do poder - e dissolveu a ditadura tunisiana - pôs no chão o braço direito da presidente da República.
          Preocupou-me ver, na noite de terça-feira, opiniões pessimistas nas mídias sociais: “foi armação. Queriam mesmo era impedir a CPI” ou “tinha de ter sido preso e não demitido” e por aí afora.
          Precisamos aprender a valorizar a Democracia que construímos a peso de luta e dor.
          Lula e Dilma queriam a saída de Palocci? Claro que não.
          Mas se podem tudo, por que, então, o ministro foi compelido a virar ex? Não teve, inclusive, a opinião do Procurador-Geral a favor dele?
          Respondo: porque temos uma sociedade questionadora e consciente, guardiã da sua Democracia. Negar isso equivaleria a negar os tweets, os artigos, o face. Equivaleria a negarmos nosso próprio valor no processo decisório nacional.
          Derrotados foram os poderosos, que tropeçaram de suas arrogâncias. Lula: “caso Palocci é questão pessoal do governo”; Temer: “caso Palocci é página virada”; Sarney: “Palocci permanecerá”; PT: “é jogo politico da oposição”.
          Foram desmentidos e derrotados pela sociedade. Ultrapassados por uma expressão diferente, uma mobilização sem pelegos e sem dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
          Venceu o Brasil do futuro. E isso só é possível porque, em 1984, substituímos a ditadura pelo regime de liberdades.
          *Diplomata, foi líder do PSDB no Senado

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