Por Cláudio Andrade.
O motorista Anderson
Pedro foi assassinado na última semana junto com a vereadora do PSOL Mariele
Franco. Ele, baleado nas costas e ela na cabeça, em um crime que caminha para
uma conclusão estarrecedora: execução.
Após a confirmação da
morte dos dois iniciou-se nas redes sociais a construção de um muro: de um lado
aqueles que dizem que a morte da vereadora é apenas mais uma estatística e que
o ato não merece muita repercussão por ser ela da ‘favela’ e ‘apoiadora da bandidagem’.
Do outro lado do muro
estão os militantes dela, do PSOL e de todos que acreditam que a morte dela,
por execução, juntamente com o seu motorista, foi fruto de sua atuação como
vereadora e das suas ações de enfrentamento contra PMs que, segundo a própria
legisladora, cometiam atos de truculência contra inocentes na Maré, dentre
outras arbitrariedades.
Deixando de lado os
gladiadores do muro fictício, que acima descrevemos, tratar a morte de Mariele
como um crime comum é desejar que ninguém descubra quem matou Anderson Pedro.
Anderson morreu, pois,
estava no lugar errado e na hora errada, certo? Claro, contudo, sem a morte da
vereadora o crime contra Anderson não teria a investigação que está tendo e as
chances da autoria ser descoberta seria quase zero.
Anderson, alvejado e
morto enquanto dirigia nas proximidades do Estácio. Status do caso: elucidação
quase impossível.
A morte da vereadora,
que poderá desvendar a morte de Anderson, também descortinou o abismo que
existe entre o que se fala e o que se pratica.
A desembargadora do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ex-procuradora do Estado, que entrou no
TJ pelo quinto constitucional, em postagem no Facebook, Marília Castro Neves,
acusou Marielle Franco de ter pertencido ao Comando Vermelho.
Segundo a
desembargadora, ela teria sido executada por ter descumprido compromissos com o
CV. “Qualquer outra coisa diversa é ‘mimimi’ da esquerda tentando agregar valor
a um cadáver tão comum quanto qualquer outro”.
Depois da repercussão
negativa da postagem, Marilia fechou o conteúdo do seu perfil, mas não a tempo
de sua manifestação ser copiada.
A opinião dela é livre,
mas será que, enquanto servidora, e diante de um processo que precisa
sentenciar, qual a desembargadora que devemos aguardar? Essa, com ‘sangue nos
olhos’ e que odeia pessoas como Mariele, ou uma julgadora serena e
imparcial, que deve condenar segundo as provas dos autos?
Pois é, nobre leitor,
que morte danada. Ao mesmo tempo trouxe para o debate os ativistas, o
Judiciário, a Polícia Federal, o MP, as Forças Armadas e um punhado de gente
perigosa que não se emociona muito quando alguém, que não é comum, leva tiros
na cabeça por estar incomodando algum ‘sistema’, dentre os milhares que existem
nessa nossa sociedade maquiavélica.
No entanto, nem toda
terra é tão desértica que não possa brotar uma flor. Graças à morte da
vereadora - pessoa pública, eleita com mais de quarenta e cinco mil votos e
relatora da comissão da Câmara Municipal, para fiscalizar a intervenção militar
no estado - Anderson Pedro poderá ter, ao contrário de milhares de outros
cadáveres, a chance da sua morte ser desvendada, afinal, era um cidadão
comum no carro de uma pessoa pública.
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