Professora relata caso grave no C. E. 29 de maio.

"Ontem minha quarta aula de Geografia no C. E. 29 de Maio aconteceu sem a presença de um aluno. Ele foi agredido na quadra da escola por outro aluno, sua cabeça foi chutada várias vezes e ele foi hospitalizado.

De quem é a culpa?

Do agredido? Do agressor? Do professor?

Hoje, vítima de perseguição constante, um aluno especial se descontrolou e, portando um estilete, tentou atacar outros alunos. Nós professores ficamos no andar de cima sem poder descer, enquanto o aluno quebrava carteiras, lixeiras e tentava arrombar o portão que dava acesso ao andar onde estávamos "presos" com cerca de 30 crianças. A Guarda, que estava presente por conta do ocorrido de ontem, nada fez. O aluno foi contido por uma professora. Alunos e professores saíram machucados. Vivemos uma semana de horror.

Estou pelo terceiro a no consecutivo trabalhando sem ventiladores, sem porta, sem mesa e cadeira de professor, sem limpeza adequada, sem livros e material escolar suficientes, sem inspetores, sem porteiros. Hoje a escola estava alagada por conta da chuva. Rachaduras, mofo e goteiras decoram várias salas. Os fios das tomadas estão expostos.

Nenhuma dignidade é oferecida aos funcionários. Menos ainda se oferece ao aluno. O que esperar dele? Gentileza e respeito ao próximo? Não há assistente social. Ninguém se envolve com os problemas sociais e psicológicos dos alunos. Os alunos especiais não recebem a devida atenção e estrutura. Simplesmente vamos improvisando e engolindo tudo isso todos os dias. Já fizemos manifestações, paralisações, chamamos a imprensa, fizemos denúncia ao MP, conscientizamos nossos alunos e nada acontece.

Saí profundamente triste por ter vivido todas essas coisas e, principalmente, indignada por saber há muito tempo que essas eram tragédias anunciadas. Era óbvio que aconteceria.

O que mais vai precisar acontecer?"

Nina Barreto