Foto: Terceira Via
A entrada da casa sinaliza a situação de abandono em que vive Wanderson Martins Alves, de 42 anos. Na sala, há apenas uma pequenamesa de centro, um sofá e um móvel com fotos e poucos objetos. Somente Wanderson mora no local. Em um dos dois quartos, o homem passa os dias deitado na cama. Apenas a programação da televisão presa à parede o distrai.
Para não desidratar, Wanderson adaptou um tubo transparente a uma pequena garrafa de água, que é consumida lentamente ao longo do dia. A alimentação é comprada em um restaurante, e o homem conta com a ajuda do entregador de quentinhas para começar a comer.
Há quatro anos, Wanderson entrou com um pedido na prefeitura de Campos para tratamentohome care. Ele ficou tetraplégico após um acidente de trânsito, em 2007, quando voltava de Presidente Kennedy, no Espírito Santo. Desde então, o homem necessita de cuidados especiais para fazer todas as tarefas. Em certos dias, ele fica sem receber visitas de amigos e vizinhos que cuidam dele e sofre por falta de cuidados básicos. “Às vezes, fico três dias sem tomar banho. É loteria. Um banho por dia é sorte.”
Em 2010, Wanderson pediu apoio à prefeitura para iniciar um tratamento em casa, com profissionais à disposição. “O meu pedido foi recusado. Disseram apenas que eu não me encaixava no perfil, mas não me explicaram o que isso significa.” Após a recusa, o homem entrou com uma ação na Justiça e, em 2011, o juiz deu a sentença favorável a Wanderson. De acordo com o resultado, caso o governo municipal não concedesse o tratamento, a multa seria de R$ 1000,00 por dia.
Em 2012, a prefeitura da cidade entrou com um recurso na segunda instância e conseguiu mudarparcialmente a sentença. A desembargadora Leila Albuquerque determinou que a multa seria de R$ 100,00 por dia. A decisão não foi acatada.
Há uns anos, Wanderson ganhou da prefeitura de Quissamã um ponto no Parque de Exposições para vender churrasco. “Amigos e vizinhos me ajudaram porque eu não posso me mexer. A prefeitura de Campos usou esse argumento (de que não precisava de acompanhamento diário) para não permitir o tratamento em casa, mas eu não conseguia trabalhar.” Antes do acidente, Wanderson era cozinheiro. Atualmente, ele vive apenas com o dinheiro que recebe do benefício da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS).
Para ir ao médico, ele também passa por dificuldades. “Tenho que esperar alguém para me colocar nacadeira. Depois, preciso pedir ajuda para chegar ao ponto de ônibus. Se o carro for adaptado, eu posso entrar. Na saída, tenho que contar com auxílio de quem puder. Passo por isso, mas deveria ter uma ambulância disponível para tratar pequenas feridas e me levarem ao hospital.” Wanderson, por falta de profissionais que o acompanhem, teve que amputar, há um mês, dois dedos do pé direito após uma ferida necrosar. “Por ficar deitado em uma posição o dia todo, tenho escaras. Tive uma no pé, mas, por não ter sensibilidade, não sentia nada.”
Até o momento, Wanderson não recebeu o que tinha direito. “Agora, só me resta esperar. Meu advogado informou que, caso eu não receba o dinheiro, irá entrar com pedido de prisão.”
Terceira Via
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