Cultura x Shows: os números falam por si

A Prefeitura de Campos dos Goytacazes, pela Fundação Cultural Jornalista Osvaldo Lima, é responsável pela contratação dos shows que compõem o chamado “Verão da Família” no Farol de São Thomé.

Certamente, a população campista e os turistas que nos visitam precisam ser contemplados com boas atrações culturais e artísticas e que levem o nome do nosso município para os grandes centros de modo a transformar o nosso balneário em uma rota turística importante.

Por outro lado, quando falamos em shows não estamos, necessariamente, definindo a cultura. Isso porque o conceito de cultura é mais abrangente, englobando literatura, cinema e arte. A meu ver, a arte deveria ser a tônica seguida pela atual gestão, mas não é.

Enquanto a prefeita de Campos Rosinha Garotinho disponibilizou para o Fundo de Cultura - que tem a função de incentivar a classe artística de Campos - R$ 176 mil para todo o ano de 2014, a apresentação da Banda “Jammil e uma Noites” custou aos cofres públicos R$ 193 mil.

Frise-se: esse valor não está acrescido das passagens aéreas, alimentação e hospedagem dos integrantes da referida banda, o que elevaria em muito o custo total.

Para que o leitor tenha um parâmetro, vale dizer que somente no mês de janeiro, além do já citado show de Jamil, a prefeitura de Campos já retirou do Erário R$ 112.200,00 para a apresentação de Naldo Benny no Farol de São Thomé; R$ 84.150,00 para Saulo Fernandes, evento realizado no dia 4 também no Farol de São Thomé; R$ 33.250,00 para Jorge Vercilo, no Lagamar em evento realizado no dia 10; R$ 66.500,00 para Cecília e Rodolfo, evento realizado no dia 15 em Santo Amaro; R$ 166.560,00 mil para o Rodeio de Tony Nascimento, que se apresentou nos dias 13, 14 e15 em Santo Amaro; R$ 116.400,00 para Alcione, que cantou no dia 19 em São Sebastião; R$ 44.100,00 mil para a Banda Fresno, que realizou a sua apresentação no dia 18 no Farol de São Thomé; R$ 38.200,00, para João Bosco em apresentação realizada no dia 17 no Lagamar; R$ 47.500,00 mil para a cantora Joana se apresentar no dia 20 de janeiro em São Sebastião; R$ 140.250,00 mil para Sorriso Maroto, em apresentação realizada no dia 25 de janeiro no Farol de São Thomé e R$ 28.600,00 para Aguinaldo Timóteo cantar no dia 26 no Clube da 3ª Idade/Farol de São Thomé.

Pois bem, leitores. Enquanto para o Fundo de Cultura a prefeita Rosinha disponibilizou (para os trezentos e sessenta e cinco dias do ano) o valor de R$ 176 mil, somente para os dias de janeiro deste ano foram liberados exorbitantes R$ 1.070.710 milhões para os shows.

Os dados acima estão no Diário Oficial do município e demonstram que há necessidade de um sério debate para que possamos entender qual o conceito de cultura que se está seguindo.

Para os que já se esqueceram: no ano passado, por maioria de votos, os vereadores vetaram o pedido de Audiência Pública, que teria como tema a cultura do município. Seria o momento adequado para Governo e Sociedade debaterem o custo - benefício e algumas incoerências quanto à destinação de verbas ao referido setor.

A disparidade entre valor/tempo disponibilizado ao Fundo de Cultura e aos investimentos em shows é, por si só, um sinalizador de que precisamos debater o conceito de cultura e a quem ela deveria atingir.

O momento em que vivemos não nos permite ficar inertes diante dessa situação; afinal, independente dos valores serem destinados ao Fundo ou despendidos com shows, em ambos os casos o pagamento é feito com o dinheiro público, ou seja: o nosso dinheiro!

Não é correndo atrás de um trio ou aplaudindo bandas no palco que a nossa cultura será enriquecida ou valorizada.

O que o Fundo da Cultura tem disponível em um ano, um cantor tem em algumas horas de apresentação! Pagar para perder a chance de crescimento cultural é mais do que um absurdo; é uma falha que precisa ser reparada.

Cláudio Andrade