Jornal Terceira Via
O Ministério Público Estadual de Santa Catarina requereu ao Poder Judiciário a interdição da Arena Joinville para os jogos de 2014. O local foi cenário da mais recente selvageria brasileira, envolvendo torcedores do Vasco da Gama e do Atlético (PR). Na ocasião, quatro pessoas ficaram feridas e três foram presas.
As cenas, veiculadas ao vivo por diversos canais de televisão, demonstraram que para alguns seres humanos a linha entre a sanidade e a barbárie é ínfima. É inconcebível que em um evento de lazer - em que pese o fanatismo brasileiro pelo futebol- seja travada tamanha luta corporal entre torcedores de times que se encontram como rivais em campo.
É público e notório que, no tocante às torcidas organizadas, existem delinquentes que sequer poderiam entrar num estádio de futebol. Também não se pode negar que para piorar esse quadro, armas brancas são levadas aos estádios por torcedores que se portam como legítimos criminosos. Isso, infelizmente, com a conivência de quem organiza a segurança do evento.
Quem não se lembra da barbárie ocorrida em 1995, na final da Copa São Paulo de Juniores? Era um domingo, mais precisamente, 20 de agosto. Naquela manhã, os juniores de São Paulo e Palmeiras entraram em campo para disputar a final da Supercopa São Paulo de Futebol Júnior. O jogo ocorreu, no Estádio do Pacaembu, com entrada franca. No final, o Palmeiras sagrou-se campeão.
Para festejar tal título, alguns torcedores invadiram o gramado, provocando os são-paulinos que estavam do outro lado do estádio. E o que se viu a partir dali foram cenas de violência explícita em uma guerra nada fria.
O saldo foi um dos piores: cento e dois torcedores feridos. E para piorar: o menor Márcio Gasparin da Silva, de 16 anos, ficou internado em coma profundo durante oito dias, vindo a falecer em 28 de agosto daquele mesmo ano.
Após essa tragédia, políticos e dirigentes fizeram as mesmas promessas que hoje estão sendo feitas pelo Ministro dos Esportes - Aldo Rebelo - e por presidentes de clube. Ou seja: o quadro se repete.
Sabemos que a probabilidade de outra cena como essa se repetir é grande. Afinal, em nosso país, não se investe em segurança em eventos esportivos como se deve. Tudo é geralmente feito ‘a toque de caixa’ enquanto que a vida, o bem maior protegido pela Constituição, continua visto como mero detalhe. Não se previne a morte e sim, trabalha-se com o mínimo de perdas possível.
A Copa do Mundo de 2014 está chegando e ainda estamos engatinhando no que diz respeito à estrutura adequada. O maior evento esportivo do futebol mundial vai acontecer no Brasil e ainda não se pode garantir que os presentes ao evento estarão seguros. Infelizmente, há sempre um ato de irregularidade e incompetência a ser exposto por meio de uma cena triste, seguida ou não de mortes.
Enquanto isso, a demagogia após o sinistro impera e ações contundentes ainda não ocorrem. Para nossos governantes e dirigentes, o melhor nesse momento é deixar o tempo se encarregar de apagar da memória do brasileiro as mais recentes cenas covardes até que outras piores ou tão graves quanto venham a acontecer.
Até lá, que se virem as famílias e os consumidores. Viva a farra no país onde pasmem: mata-se por futebol.
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oi