Jornal Terceira Via
Várias capitais brasileiras foram palco de manifestações durante a segunda-feira (17 de junho). Com motivações variadas, aproximadamente duzentos e cinquenta mil brasileiros foram às ruas (apesar de ostentarem o rótulo de apáticos) e demonstraram que o poder de indignação ainda pulsa e pulsa forte.
Os levantes iniciados na capital de São Paulo não foram embasados apenas no aumento de R$ 0,20 no bilhete de transporte. Foram calcados também na crítica à estrutura do transporte público brasileiro e nas demais precariedades contidas nas células organizacionais federais, estaduais e municipais de nossa nação.
Royalties, passagem de ônibus, alta carga tributária, desemprego, inflação, violência, saúde e educação já são temas que emplacariam há muito tempo grandes revoltas populares.
Causa-nos satisfação constatar (quando movimentos dessa proporção ocorrem) que nem todo soco desferido em ponta de faca é em vão.
Acreditar é sempre um bálsamo quando o que se deseja de fato se materializa em forma de movimentos populares inesperados. Exatamente quando se pensa que o conformismo já tomou conta da sociedade e que a monotonia reivindicatória já se faz enfadonha, surge uma luz radiante no poder de valoração do homem enquanto cidadão contribuinte.
O número de brasileiros que aderiram aos movimentos foi surpreendente. No entanto, ainda falta quórum para uma luta contundente e eficaz contra as mais diversificadas mazelas sociais. Há várias janelas ainda fechadas uma vez que muitos insistem em se manter em um profundo sono confortável.
Segundo matéria do jornal O Globo, a geração que não trabalha tampouco estuda no Brasil cresceu (entre 2000 e 2010) de 12,3% para 16% dos jovens.
Esse dado é muito grave para ser esquecido de um dia para o outro. São mentes e corpos fadados à inoperância, servindo de iscas em potencial para o tráfico e para os políticos sem escrúpulo.
Políticos esses que não conseguiram disfarçar o espanto do qual foram acometidos. Entre si, questionaram nos bastidores: esse é o povo que vota? Esses são os cidadãos aos quais estou acostumado, em ano eleitoral, a ‘comprar’, iludir e prometer dádivas?
Causa-nos também grande espanto o descaso de alguns representantes sociais e de lideranças políticas que, diante de uma oportunidade de colocarem em prática seus discursos, quedaram-se inertes com receio de a manifestação respingar (na seara eleitoral), trazendo desgaste aos seus projetos de poder.
Tais manifestações vêm a reboque para mais além de uma juventude revoltada com a má prestação dos serviços, atraindo um determinado grupo de “rebeldes sem causa”. Esses não devem ser expurgados por não possuírem uma agenda de reivindicações. Devem sim, ser ignorados já que almejam descontar suas frustrações pessoais, desafiando autoridades policiais e depredando prédios públicos.
Nesse momento, não se pode errar. Ainda é cedo para se afirmar que o povo acordou de um longo e profundo sono. Todavia, foi bastante uma mexida para que a poeira entranhada nas vestes tupiniquins fosse para o ar e o esboço de uma nova roupagem fosse a nós todos apresentado.
Ainda é rascunho, mas pode vir a ser uma história definida, digna de um bom livro e lida (por que não por nossos filhos e netos?)
Eles certamente nos perguntarão para onde o vento está soprando e teremos que abrir mais janelas para a resposta certa e chegaremos a nos indagar: Será que o vento mudou?
Cláudio Andrade
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