domingo, 24 de fevereiro de 2013

A enfermidade que não pode terminar



Jornal Terceira Via

Incontestável que a saúde é um dos bens mais preciosos na vida. Sem tal bem, o simples torna-se complexo e o fácil torna-se difícil de ser conquistado. Dependendo de qual enfermidade se é acometido, as limitações podem variar de um grau mínimo ao máximo.

O cotidiano sofre mudanças drásticas e a má notícia transforma a vida pessoal e familiar do enfermo em que pese alguns afirmarem que experimentar essa nova fase enseja uma linha de aproveitamento inusitada.

Muitos familiares já testemunharam um ente querido usando o estado de enfermidade a fim de obter mais carinho e atenção. Trata-se de um comportamento típico de pessoas que descobrem que a elas não seria dispensado um tratamento cuidadoso se não estivessem doentes e debilitadas.

O sentimento de carência chega a ser tão grande que a angústia pelo recebimento de um diagnóstico indesejável é suplantada pela absorção do carinho nunca antes presente. Por vezes, o doente chega à triste constatação que prefere ser um doente querido a um sadio carente.

O fim de um tratamento pode significar o término de uma atenção jamais experimentada. A continuidade do café servido na cama, dos beijos inesperados e da atenção integral estará ameaçada se a saúde for restabelecida.

Não se pode esquecer que a carência afetiva enseja o surgimento e a constância de doenças físicas. No entanto, esses enfermos, após o diagnóstico alarmante, conseguem estar de volta ao centro das atenções. Conseguem a façanha de resgatar a situação de ator principal do seio familiar.

A tristeza não pode dominar quando se enfrenta adversidades físicas ou mentais. Todas as dores terminam. Para muitos, a ação do tempo é infalível e por isso, diante de uma situação que revira nosso cotidiano em trezentos e sessenta graus, o melhor é se cuidar. Não se pode alimentar a situação em nome da preservação de um amor circunstancial. Um amor expressado ali, somente em virtude do momento, mas que jamais retratou a realidade.

Nenhum ser humano, em sã consciência, aproxima-se do espinheiro por causa dos espinhos nem mesmo do lodo porque se sujará.

Melhor seria se identificássemos as carências de nossos entes queridos antes que uma má noticia nos faça lembrar de que eles estão ao nosso lado; saudáveis e quase imperceptíveis. Todavia, clamando por um gesto de amor.

Cláudio Andrade

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