sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Carmem: a eleitora fantasma

 
 Jornal Terceira Via

"Essas eleitoras votam enquanto vivas, mas no fundo de seus âmagos, sentem a morte a cada dia"



A Corregedoria Eleitoral do Espírito Santo vai apurar a denúncia de uma mulher, falecida há 11 anos, que “votou” para prefeito no município de Nova Venécia (ES) nas últimas eleições. O título da falecida é o de nº 007666521473 e seu voto foi computado, na Zona Eleitoral 0030, sessão 0162. Seu nome: Carmem Mota Lusquinho.
 
No TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a Presidente Carmem Lúcia e as Ministras Luciana Lóssio e Nancy Andrighi evitaram comentar o voto devidamente validado e atribuído a uma falecida.
 
Não obstante o caso acima, não restam dúvidas de que, em nosso país, o Sistema Eleitoral Brasileiro está sendo aperfeiçoado a cada pleito. A apuração dos votos se dá com mais presteza, sendo os eleitos, conhecidos com maior celeridade.
 
Aproveitando a situação inusitada acima descrita, ocorrida no estado capixaba, faço uma indagação: quantos eleitores mortos/vivos votaram nas últimas eleições?
 
A falecida Carmem (que Deus a tenha) não terá a oportunidade de saber se o seu voto valeu à pena. Afinal, no céu, suponho que não haja debate eleitoral, tampouco meios de comunicação sofisticados para que a nobre eleitora possa tomar ciência da vitória ou derrota de seu candidato.
 
Na Terra, que para muitos é o verdadeiro inferno, milhões de ‘Carmens’ morrem a cada dia. São eleitoras que, apesar de estarem em dia com a Justiça Eleitoral, falecem, em doses homeopáticas, por inanição, falta de moradia e assistência à saúde.
 
São ‘Carmens’ que trabalham mais de doze horas por dia nos canaviais. Labutam nos lares, nas ruas e ganham salários de morte. ‘Carmens’ que defendem as suas remunerações com muito suor, dignidade e perseverança. Vivas por fora, mas mortas por dentro.
 
Com certeza, há uma Carmem em cada canto. A Carmem-mãe, a pedinte, a ladra, a professora, a mendiga. Existem ‘Carmens’ nos sinais de trânsito, cheirando cola, abortando e sofrendo por tudo quanto é motivo.
 
Nas comunidades carentes, as ‘Carmems’ sofrem com os assassinatos de seus filhos - resultado das falidas políticas de segurança - com o choro faminto da prole e da saudade de sua terra natal. Algumas delas passam a vida na boleia do caminhão, ora trabalhando, ora satisfazendo os desejos sexuais de inúmeros motoristas.     
 
Há ‘Carmens’ que até dão sorte. Arrumam bons casamentos, lares estruturados, mas passam por agressões e privações psicossociais tão graves quanto se fossem moradoras de rua. Nesse momento, há ‘Carmems’ nas filas dos postos de saúde, nos terminais rodoviários, nas visitas íntimas nos presídios, nos prostíbulos nordestinos e nos halls dos renomados hotéis.
 
Essas eleitoras votam enquanto vivas, mas no fundo de seus âmagos, sentem a morte a cada dia. Uma morte traduzida nas desigualdades gritantes, quando a classe social, a cor e o sexo ainda são requisitos para uma vida mais digna.
 
A Carmem capixaba, que votou após onze anos de falecimento, está hoje em situação bem mais confortável do que as vivas. Onde está,  pelo menos não sofrerá, na pele, as angústias e os prejuízos que um voto mal creditado traz. Aqui, as aptas ‘Carmens’ continuarão votando. Todavia, mortas de decepção diante do cenário social que lhes é ofertado.     
 
Enquanto isso, Carmem, a eleitora fantasma, aguarda o julgamento acerca da validade do seu voto. Mistérios do Céu e da Terra...

Cláudio Andrade

3 comentários:

  1. O TRE/ES já apurou que houve mesmo um erro do mesário que, na hora de digitar o número do título, habilitou outra eleitora.
    Isso é pouco comum, mas acontece: seres humanos são falíveis.
    Houve também erro do Cartório de Registro Civil, que não informou o falecimento ao TRE/ES.
    O TRE não tem como adivinhar quem está morto...

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  2. Prezado Dr. Cláudio,

    Inicialmente, gostaria de deixar registrado que essa postagem foi muito interessante. Costumo ler seu blog diariamente, sempre encontro aqui boas notícias e informações de grande relevância (pelo menos pra mim!), pois conforme já mencionei em outra postagem, sou absolutamente contra o jornalismo sensacionalista, o que não não é o caso do seu blog, também não quero dizer que concordo com todas as suas opiniões, discordo em alguns pontos, mas nada que comprometa a qualidade do seu serviço, trata-se apenas de um mero ponto de vista distinto.

    Contudo, entendo pertinente perguntar a respeito das eleições (principalmente de nosso município), onde candidatos a vereadores fazem campanhas prometendo mundos e fundos com propostas veementemente levianas, e uma vez eleitos acabam optando em execer cargos no Poder Executivo, como Secretariados. Isso não é uma forma de ludibriar o povo?
    Afinal, segundo a Constituição Federal, "todo Poder emana do povo, que o exerce por meio de representante eleito", então, a grosso modo, votar e eleger um candidato seria o mesmo que outorgar uma procuração em branco, para que ele nos represente da maneira que se comprometeu a fazer no momento que se candidatou, uma vez que votamos no dia 7 de outubro para os cargos de vereadores e prefeitos e não para Secretários e Subsecretário.

    Essas são minhas considerações.

    Novamente parabéns pelo excelente trabalho.

    Atenciosamente

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  3. Boa noite claudio! gostaria que vc apurasse para nós seus leitores o motivo da prefeitura ter fechado algumas creches , vou falar em face do fechamento da creche de baixa grande que de uma hora para outra fechou as portas e não sabemos ao certo porque, acho isso uma absurdo nós maes que dependemos da mesma, nossos filhos ontem só estudaram até meio dia e recebemos a informsação que iria fechar, entendemos que o predio não está legal, mas acho que deveria ser providenciado outro, mas agora a tarde soube que outras também fecharam inclusive em farol, apure ai para nós por favor,foi só passar a eleição para a decadencia recomeaçar.

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oi