quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Dois caminhos, um governo

 Jornal Terceira Via

"O interesse privado vem se sobrepondo ao coletivo e ocorre, muitas vezes, nos governos seja municipal, estadual ou federal"

 
Maquiavel lida com o poder e trata da ambição humana por meio da qual “os homens se conquistam e se exterminam”.
 
A divisão administrativa e política do Brasil é entendida por quem conhece o assunto. Para os que não conhecem, um prefeito ou governador administra seu município ou estado sem qualquer aparato político. Ledo engano!
 
Para que uma gestão tome os rumos desejados pelo chefe do Executivo, há uma necessidade de se formar a máquina político-eleitoral (oriunda dos recursos recebidos) e de se vincular esses recursos ao apoio político local.
 
Citemos os orçamentos aprovados no Congresso Nacional. A liberação das verbas somente é facilitada se o prefeito ou governador vier a apoiar o Governo Federal em alguma demanda. Trata-se de uma forma vil de captação de apoio político que, infelizmente, é costumeira no cenário nacional. Ressalte-se que esses orçamentos não são impositivos; logo, não existe a obrigação de usá-los da forma como foram aprovados.
 
Alguns chefes de Executivo, no âmbito municipal e estadual, exercem um forte poder sobre suas bancadas legislativas na Câmara dos Vereadores e nas Assembleias Legislativas. Por meio dessa prática, nem sempre salutar, os governos vão mantendo sua força política.
 
Assim, as verbas que deveriam ser aprovadas em benefício da comunidade, são liberadas com o fim de presentear os políticos fiéis e vetadas, com o fim de punir os infiéis. Uma negociata cruel que, por várias vezes, deixa o cidadão na falta de provimento de suas necessidades, muitas vezes vitais, como remédios e moradia.
 
O que se vê são inúmeros cidadãos tentando utilizar o SUS (Sistema Único de Saúde), sonhando com uma vaga em creches e na fila das farmácias populares. Caso o prefeito de seu município não seja um aliado político do governo estadual ou federal, a viabilidade dos anseios populares torna-se ainda mais precária.
 
Enquanto isso, quanto maior a proximidade de um pleito eleitoral, maior a divisão das verbas entre os aliados. Assim, quando são esgotados os numerários liberados, por lei, para os políticos fiéis, o caminho é o escoamento via empreiteiros e amigos da Corte.
 
No caso das empreiteiras, basta uma consulta superficial aos diversos Diários Oficiais para se constatar que as empresas, detentoras do maior número de obras, são as que têm uma participação contributiva considerável na estrutura de poder (mesmo que de forma velada).
 
Disso se constata que o interesse privado vem se sobrepondo ao coletivo e ocorrendo, muitas vezes, nos governos seja municipal, estadual ou federal. No entanto, essa sobreposição ocorre de forma mascarada a fim de que o cidadão-eleitor jamais tenha essa ótica ao votar ou ao acompanhar a administração de seu eleito.
 
Inegável que os governantes devem manter uma boa relação entre eles. Uma relação institucional salutar e capaz de gerar bons frutos à comunidade. No entanto, o que vemos é uma parceria oportunista e imediatista onde quem sai perdendo é o povo.
 
Uma relação compromissa entre gestor e cidadão deve ser cobrada exaustivamente e não deve ser vista como uma utopia governamental. O povo tem que estar instruído e a ele deve ser esclarecido cada passo dado com o dinheiro público. A parceria entre os governos deve ser institucional e não pessoal, sob pena de se personificar um governo e este deixar de representar os anseios da comunidade para representar os interesses dos próprios governantes.
 
O político está sempre na busca de um mandato e o eleitor, na busca de alguém que dê provimento às suas necessidades. Partindo-se disto, torna-se indiscutível que a eleição de um candidato não deve ser um contrato leonino quando uma das partes é, de forma exacerbada, a que saiu com mais vantagem.
 
O povo é parte e não um terceiro estranho ao processo de eleição. A parceria deve ser com a comunidade, a grande responsável pela vitória de um governante. Disso não resta qualquer dúvida!
 
Como dizia o escritor irlandês Richard Brinsley: “nada é tão artificial que não seja fisicamente impossível”. Eu acredito!

Cláudio Andrade

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