segunda-feira, 27 de agosto de 2012

As decisões judiciais e a bandeira armada da comoção popular


Jornal Terceira Via

"Alguns políticos optam pelo discurso da vitimização em vez de aguardarem o julgamento do recurso"


Uma decisão judicial pode ou não ser favorável para aqueles que figuram na qualidade de autores ou réus. Quando a parte que perdeu a demanda ingressa com recurso, o julgamento deste pode se ‘arrastar’ por anos, o que causa enorme morosidade na efetivação do que foi pleiteado no Judiciário.

No âmbito eleitoral, a situação é ainda mais delicada. Além das expectativas naturais pelo julgamento de uma ação, temos a paixão política como ingrediente incendiário. Posses, afastamentos, reconduções a cargos e indeferimento de registros são alguns exemplos de pedidos que mexem com a sociedade, principalmente em ano de eleição.

Em alguns municípios, alguns grupos políticos recebem as ordens judiciais de acordo com seus interesses pessoais e profissionais. Por exemplo: se um candidato-líder for o réu e a ordem judicial vier contrária aos seus ideais, todo um esquema é preparado para que uma falsa comoção social seja ventilada aos quatro cantos.

Quando um município apresenta um considerável número de cargos de confiança e terceirizados, a tática corriqueira de “jogar a população” contra o Judiciário tem um campo de ação muito grande. Neste contexto, a ordem política dada é a de conduzir o máximo de agregados aos eventos, já combinados, para que tal manifestação seja vista como um ato popular de revolta e não como uma ação individual de indignação pessoal do candidato, que perdeu a demanda judicial. Um verdadeiro escárnio!

Não restam dúvidas de que o simples fato de se ocupar um cargo de prefeito ou governador já confere ao chefe do Executivo a probabilidade de ser alvo em ações que visam pôr em xeque a sua administração. No entanto, muitas ações são propostas de forma temerária e somente para desgastar o detentor atual do cargo. Uma estratégia muito conhecida e, infelizmente, ainda eficaz.

Muitos políticos, que possuem seus redutos eleitorais nas camadas sociais mais carentes, trabalham com a BANDEIRA DA COMOÇÃO. Quando uma decisão judicial ameaça seus interesses, a ordem é espalhar o caos pela cidade. Alguns chegam a incentivar confusões e transtornos de todo o gênero para que o clima tenso, esquematizado e montado, possa ganhar as manchetes dos jornais. Nos discursos, alguns prefeitos e governadores chegam ao ponto de condicionar projetos sociais e o investimento das verbas compensatórias à sua manutenção no cargo ocupado. Um notório jogo desigual como um clássico contrato leonino!

Para esses políticos, centrar suas forças, no caos programado, é mais fácil do que explicitar, de forma pormenorizada, a realidade dos fatos. Esses atores (nada coadjuvantes) optam por armar cenários apocalípticos que mascaram a sua real e complexa situação perante a Justiça. Ao lançar uma nuvem armada sobre os meios de comunicação, o político cria uma nova situação fática e a discussão inicial perde seu foco.

Essa tática tem sido mantida em diversos pontos do Brasil. Inconformados com os rumos conferidos pela Justiça aos seus mandatos e sonhos eleitorais, alguns políticos optam pelo discurso da vitimização em vez de aguardarem o julgamento da interposição do recurso, este verdadeiro meio idôneo de se mostrar indignado com uma decisão/sentença judicial. Sinal de alerta para a sociedade!

O Judiciário tem suas deficiências, o que é inegável. Contudo, creditar as decisões desfavoráveis dos togados a uma pseudo perseguição aos políticos é uma conduta que merece repúdio e intolerância. Grande incoerência fomentar esse tipo de vaidade política. Isso porque, por muitos anos, lutou-se, nos chamados “anos de chumbo” da ditadura militar, para que as Instituições tivessem sua ordem restabelecida, sendo uma delas o Poder Judiciário. Logo, descreditar o Judiciário em prol de meras ilações políticas é um ato oportunista e ignorante.

Espero que a população reflita e se convença de que decisão judicial é para ser cumprida e que todas elas abrem o direito sagrado ao recurso. Os atos de cunho teatral, perpetrados por alguns políticos com o intuito de confronto, devem ser repudiados em respeito às Instituições e à cidadania.

Afinal, a Bandeira a ser levantada é a do respeito à Constituição e não a BANDEIRA DA COMOÇÃO POPULAR. FIQUEMOS ALERTAS!

Cláudio Andrade.

3 comentários:

  1. Não podia dizer melhor! Parabens com esta observação!

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  2. Eu concordo com o seu texto, mas vai tentar convencer as pessoas disso.

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  3. Realmente Cláudio, ilações políticas são o grande mal do século!

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oi