domingo, 22 de maio de 2011

"PERDERAM AS REFERÊNCIAS" POR ARTHUR VIRGÍLIO



PERDERAM AS REFERÊNCIAS

*ARTHUR VIRGÍLIO
          
           Já nem me refiro ao “consultor” Dirceu. Lamento, isto sim, a nova trapalhada do Ministro Palocci, homem forte do governo Dilma.
          
Preparado, poderia prestar inestimáveis serviços ao País. Mas vive no limite entre o certo e o errado desde os tempos da Prefeitura de Ribeirão Preto. Até hoje seu sono é visitado por fantasmas municipais.
          
Inteligente, é talvez o quadro mais preparado do seu partido e do seu governo. Envolveu-se, porém, no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo e ficou na periferia do poder até a apertada absolvição pelo STF.
          
Disciplinado, não consigo negar que tenha sido eficiente Ministro da Fazenda ou que seja, no presente, atilado articulador político. Novamente as manchetes dele se ocupam, entretanto, com notícias dasairosas, envolvendo obscuras atividades empresariais com reflexos, que precisam ser aclarados, em seu patrimônio pessoal.
          
Deus lhe deu valiosos dons. Pena essa tendência a estragar as coisas.

Os governos Lula e Dilma, aliás, perderam as referências. Difícil encontrar Ministro que não responda a processo grave ou não tenha escapado de algum. Governo de “reabilitados”, alguém diria, na melhor hipótese. Até porque quem não é “reabilitado”, longe de estar isento de suspeições, na regra (pode haver exceções), está respondendo a alguma inquirição do MP ou dos tribunais.
          
João Paulo Cunha, presidindo a Comissão de Justiça da Câmara e Delúbio Soares, tratado como se não fosse o arrecadador do mensalão e sim menino travesso que falou palavrão para a vizinha, são símbolos do que virou a República. Fisiologia, negociatas, baixo clero comandando a política, ausência de espírito público, tudo isso retrata o Brasil que não desejo para os meus filhos e nem para os filhos de ninguém.
          
A inflação está de volta. A irresponsabilidade fiscal de Lula a redespertou. A inapetência de Dilma para combatê-la a alimenta, contraditoriamente na hora em que a jornalista Míriam Leitão lança seu novo livro (SAGA BRASILEIRA, A LONGA LUTA DE UM POVO POR SUA MOEDA), relatando a epopéia que foi a vitória contra a hiperinflação, entre 1979/93, de 13.5 trilhões por cento.
         
Voltam as fórmulas milagrosas e demagógicas de falso combate ao “dragão”. Controle de preços, demagogia que prejudica a Petrobrás e seus acionistas, medidas insuficientes, meia boca, insustentáveis. Num País em que as obras do fim da era Lula estão abandonadas; apenas 8% dos homicídios são solucionados e governo não consegue fazer sua formidável base parlamentar deliberar sobre o Novo Código Florestal.
          
Às vésperas da ditadura nazista, disse Heine sobre a Alemanha: “de noite, quando penso no meu país, perco o sono”. Pois eu também.

          *Diplomata, foi líder do PSDB no Senado

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