segunda-feira, 11 de abril de 2011

PRECISAMOS CONVERSAR SOBRE WELLINGTON






A tragédia ocorrida no bairro de Realengo no Rio de Janeiro talvez tenha sido a que mais abalou a sociedade brasileira. No dia sete de Abril, treze crianças foram executadas dentro de uma escola pública por um ex-aluno.


A horrenda ação orquestrada pelo suicida Wellington me fez lembrar do polêmico livro de Lionel Shriver, que retrata as possíveis facetas de problemas comuns como o casamento e a carreira, a maternidade, a união familiar, e o conflito atual dentro da cultura contemporânea que está produzindo violência entre os jovens, como por exemplo, os pitboys tupiniquins e os assassinos mirins em série.


No livro “Precisamos conversar sobre Kevin”, a autora narra à história de Kevin, um garoto bonito, inteligente, mimado pelo pai e admirado pelos professores que surpreendeu a todos ao cometer uma chacina, uma matança sem igual no ginásio de seu colégio, nos subúrbios de Nova York. Num crime friamente calculado, Kevin usando uma balestra, dispara flechas contra sete colegas seus, uma professora e um
funcionário da cantina, matando e ferindo sem uma explicação plausível.


A situação não é propícia para generalizações. O assassino e suicida Welligton era adotado, anti-social, possível vítima de bulling e diante dessas identificações muitos acreditam terem encontrado os motivos que justificam a barbárie de Realengo. Discordo plenamente, afinal milhares de pessoas passam pela mesma situação de vida e nem
por isso saem destruindo vidas em escolas.


No Rio, devido ao suicídio de Wellington, não saberemos nunca as verdadeiras motivações que o levaram a descontar em treze anjos, os seus fantasmas internos.


Por outro lado, precisamos discutir como anda a vida de nossos jovens. Necessitamos de forma urgente aprender a identificar quando começa a brotar o anjo mal.


Os pais de hoje não podem mais, sob pena de chancelar a formação de um monstro em potencial, aceitar agressões de filhos, comportamentos deturpados em escolas, atos de perversidade com animais e pessoas, como uma coisa passageira.


A construção familiar sólida é um bom começo para que algumas coisas sejam evitadas em futuro próximo. Nos dias atuais, grande parte dos pais não mantém o canal de ligação comunicativa com suas proles. O resultado disso é uma família composta de estranhos, onde todos vivem no mesmo teto, mas com vidas que não estão interligadas.


O distanciamento faz com que a formação ética e moral dos jovens sejam formadas por eles mesmos diante de uma variante de conceitos e condutas que, sem uma orientação familiar, transformam-se em interpretações desconexas que podem levar a construção de um homem pronto para explodir.


A dor desses pais e familiares deve ser compartilhada com todos nós, afinal trata-se de uma ruptura de vida sem igual. Não acredito que o cenário pavoroso que vivenciamos em Realengo transforme-se em um modus operandi. Mesmo assim, não podemos deixar de aprender também com a dor, afinal uma das treze crianças executadas poderia ser um de nossos filhos.





Cláudio Andrade



3 comentários:

  1. Muito bem escrito o seu artigo, que, por aqui, virou uma postagem com chance de comentários. Linguagem direta, emotiva e sem pendência de julgos. Realidade pura:precisamos observar nossos jovens, precisamos não permitir agressões em famílias, entre eles mesmos. Os indícios dessa mudança comportamental nos dias de hoje, têm origem em casa.Os históricos familiares guardam reservas futuras muito sérias.Não que todos os indivíduos resultam em processos semelhantes, todavia, necessitam de socorro no campo afetivo, sim. Nossos jovens têm andado doentes da alma, dentro de uma insatisfação muito grande. Assunto bom para reunir uma equipe interdisciplinar originando um estudo valioso. Parabéns, Dr. Claudio, pelo seu convite à conversa sobre "Wellington".

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  2. Parabéns! Esse artigo é maravilhoso e dá chances para debate em vista dos prolemas que enfrentamos.
    Vera Cardoso

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  3. Concordo, Dr Cláudio! E acrescento: o que falta ao jovem de hoje é um modelo a seguir. Muitos encontram dentro de suas próprias casas, o péssimo exemplo. Não podemos culpar somente a notória revolução tecnológica! O que falta realmente é amor, atenção, exemplo...
    Rosângela

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oi