CA- O senhor considera que a música popular brasileira é conhecida e respeitada no exterior?
DC- Cláudio, eu entendo que existem dois tipos de música: uma para ouvir e outra para dançar. Nunca fui fã das músicas usadas só para o divertimento, nesse contexto não incluo o carnaval. Nos Estados Unidos eu não sou conhecido no meio dos brasileiros; lá, o meu público é de americanos. Eu me apresento em teatros fechados para um público seletivo que gosta de música para ouvir.
CA- A linha ouvir ou dançar é também adotada na Europa?
DC- Claro. Os europeus adoram as músicas de massa. A França, por exemplo, é responsável pela mediocridade da música de dança brasileira. Você acredita que o meu filho mais novo adora ouvir "Rebolation"?
CA- Você poderia citar alguns nomes da música nacional que podem ser considerados destaques nos Estados Unidos?
DC- Vejo uma boa penetração de Ivan Lins, Ermeto Pascoal, meu pai e Tom Jobim.
CA- A Bossa Nova começa com "Chega de Saudades" de João Gilberto?
DC- Não. Acho que não há uma definição, nem mesmo um marco. Vinícius de Moraes sempre 'puxou o saco' para que essa música do João tivesse essa conotação. Se fôssemos entrar no mérito do início, deveríamos citar Chet Baker, que tocava uma "bossa jazz" mansa e teve uma influência enorme no início da dita bossa nova.
CA- Você não gosta da terminologia Bossa Nova?
DC- Cláudio, acho a expressão errônea, mas mesmo assim ela foi difundida no Brasil e depois no exterior. Você acredita que até o Juca Chaves foi considerado um cantor de bossa?
CA- A sua carreira pode, verdadeiramente, ser compreendida entre duas fases: Seu pai e depois com Tom Jobim?
DC- Eu fui estudar no conservatório e a primeira coisa que eu aprendi foi odiar piano. O meu pai foi o meu primeiro indicativo musical, mas antes do Tom eu já tinha boas inspirações com Badem Powell. Quando eu comecei com Tom, ele já fazia coisas belas com Vinícius.
Com o Tom Jobim eu comecei a gravar desde menino. Meu irmão (Danilo) trabalhou com ele, mas eu sempre estive com o Jobim na parte harmônica. Posso te afirmar que além de Tom, Vila Lobos, Ari Barroso, Noel e Braguinha são ícones que também me influenciaram.
CA- Cartola e Nelson Sargento?
DC- Não.
CA- Qual a sua lembrança dos anos da ditadura? Foi a época em que você participou como diretor de teatro, certo?
DC- Sim, você é novo, mas o seu pai deve se lembrar de uma música do Zé Kéti denominada "Farol Pobre", feita para as camadas mais baixas e que foi acolhida pela esquerda e se tornou lema do movimento. Naquela época o trabalho era gratificante, mas não havia dinheiro. Quando gravei com Fernando Torres e Fernanda, no Cassino da Urca, não podíamos errar, pois não havia VT. Devo registrar nessa entrevista que o mais importante nome do teatro, em minha opinião foi Duvaldo Viana Filho, um mestre do teatro.
CA- Qual a leitura que o senhor faz acerca da pirataria?
DC- Trata-se de um fenômeno de descaso da elite com o seu povo. Na minha época havia poucas favelas e hoje elas são inúmeras. O preço do CD equivale a 10% do salário mínimo. Eu fiz um CD independente que custou 15 mil reais para ser produzido e estou vendendo por 25 reais. Detalhe importante: só vendo em shows para não haver ágio. Em São Paulo eu vendi 234 em dois dias de apresentação. Isso nunca aconteceu.
CA - Recentemente a Rede Globo de Televisão premiou o grupo 'Calcinha Preta'. O senhor acha o referido grupo resultado de uma nova safra?
DC- Cláudio, a Globo vende música para a elite e eu para os que desejam pensar.
CA- Qual a música de sua autoria mais pedida em suas apresentações?
DC- Desenredo e Posto. A primeira me rendeu o recebimento da medalha Tiradentes.
CA- Residir no exterior desde a década de 90 foi importante para o seu crescimento profissional?
DC- Sim. Eu era limitado, pois era conhecido como arranjador. Somente nos Estados Unidos eu comecei a ser lembrado como compositor, afinal eu tenho mais de cem músicas. Você conhece a música "alegre menina", da novela Grabriela? Todos acham que ela é do Djavan, mas é minha.
CA- Como foi o seu sentimento ao receber o Grammy latino e melhor CD de Samba para Caymmi 90 anos?
DC- Quando eu ganhei, em 2004, eu adorei. Entretanto, no exterior ninguém conhece esses vencedores, pois o mundo latino reconhece Julio Iglesias, seu filho e aquelas todas que cantam com os seios e as pernas.
CA- E o nosso Fluminense? O Maracanã lhe traz grandes recordações?
DC- Sim. Fui pela primeira vez em 1951 e o nosso Flu foi campeão. Eu lembro que na época não havia túnel, o time do Flamengo descia a estrada Niemeyer e no final do Leblon, na Praça Cazuza, gritavam meu pai que aparecia na janela. Eu ficava chateado, pois não era o time do Fluminense.
CA- O maior craque que o senhor viu jogar?
DC- Ele é da sua terra Cláudio. O maior de todos para mim foi DIDI que me fez ser torcedor do clube de Álvaro Chaves.
CA-Quais as suas recordações do Beco das Garrafas, aonde o senhor chegou a tocar com Francis Hime?
DC- Nenhuma. No beco teve início a galera instrumental brasileira da qual eu não fazia parte. Entretanto, quando Flávio Ramos criou o Gourmet aconteceram momentos memoráveis como a apresentação trivial de Tom, Vinícius e João. O Beco era reduto de Menescal, Bebeto, Antônio Adolfo e tantos outros.
Obrigado Cláudio pelo seu carinho.
Fique com Deus
Dori
QUE ENTREVISTA BELÍSSIMA!!
ResponderExcluirEXCELENTE
GRANDE BJO KELLY ANDRADE
Parabéns pela entrevista
ResponderExcluirAmei a entrevista! Parabéns Cláudio!!! Salve a música popular brasileira!
ResponderExcluirCláudio
ResponderExcluirOuvir Dori, tanto cantando quanto falando, é sempre legal. A entrevista foi muito legal, a reparar apenas, dois erros que reputo o primeiro à sua juventude e por isso, a grafia errada, apesar da pronúncia ser a mesma, de Zé Kéti e não Zé Cat (gato em inglês) e de Duvaldo Viana Filho, ao invés de Oduvaldo Viana Filho, grande teatrólogo, diga-se de passagem. Esses são os reparos que espero enriqueçam o conteúdo da entrevista que, volto a repetir, foi muito legal.
Caro Provisano
ResponderExcluirCom relação ao Zé (Kéti e não Cat) fiz a reparação, entretanto o nome que ocntas inclusive em breve pesquisa é Oduvaldo e não Duvaldo como fosse me disse.
Depois confira para mim.
Belíssima entrevista. Gostei imensamente. Abraços.
ResponderExcluirEntrevista completamente sem noção!!! Concatenação de perguntas sem nenhuma lógica!!! O Dori merece uma entrevista melhor prepara.
ResponderExcluirCaro Joãozinho
ResponderExcluirNão fique assim não. Na semana que vem eu entrevistarei outra estrela e te convido para palpitar ok?
Durma bem
cláudio (amigo de Dori)
Caro Cláudio
ResponderExcluirO nome do dramaturgo é ODUVALDO, como disse no meu comentário e nâo DUVALDO (nossos ouvidos costumam nos trair quando se trata de degravação) como está grafado na entrevista, que, por sinal, achei muito legal, volto a repetir. Para enriquecer mais a discussão, uma breve história de Oduvaldo Viana Filho, também conhecido como Vianinha:
Oduvaldo Vianna Filho, também conhecido como Vianinha foi um dramaturgo, ator e diretor de teatro e televisão brasileiro.
Filho de Oduvaldo Viana que também marcou época no teatro brasileiro, Vianinha estreou no teatro em 1955como ator, na peça "Rua da igreja", com o grupo do Teatro Paulista do Estudante. Com espírito polêmico e sempre muito combativo, Oduvaldo Vianna Filho fez parte do Teatro de Arena e estreou como autor em 1959, ao escrever "Chapetuba Futebol Clube".
Em 1973, juntamente com Armando Costa, criou e dirigiu na Rede Globo de Televisão uma das séries humorísticas de muito sucesso, que voltaria a ser apresentada na mesma emissora: "A Grande Família".
Suas peças "A Mão na luva", "Allegro desbum" e "Rasga coração" ganharam diversas montagens no Brasil. Uma muito elogiada pela crítica é a última, "Rasga coração", que ele terminou de escrever poucos dias antes de falecer, vitimado por um câncer pulmonar, com apenas 38 anos em 16 de julho de 1974.
Forte e fraternal abraço.