O (des) prazer de freqüentar o Fórum.
Freqüentador dos nossos fóruns (antigo e novo) há mais de trinta e seis anos, resolvi tecer algumas considerações sobre o novo e o antigo.
Comecei a freqüentar o fórum antigo, na década de setenta, mais precisamente no ano de 1971.
Tempo em que tanto o relacionamento com os magistrados, promotores, defensores públicos, advogados, meirinhos e serventuários da justiça era pautado pelo respeito, consideração e como disse certa vez um juiz, com “urbanidade porem sem subserviência”.
Dava prazer comparecer ao fórum quase que diariamente.
O contato com os juízes quando preciso, era sem barreiras e com cordialidade. Existia mais proximidade entre advogados e magistrados.
Era comum o cafezinho na cantina onde se contava e ouvia casos e “causos” do cotidiano forense.
O zelo do serventuário com o processo, quer na sua autuação (que naquela época era costurado) ou diligência no seu andamento era uma constante. Raramente se viam processos com folhas soltas ou por se soltar, folhas rasgadas, capas desfiguradas. Os atos processuais eram datilografados e, (com raríssimas ressalvas) com esmero. Existia o interesse e iniciativa dos serventuários em avisar aos advogados dos atos que deviam praticar para seguimento e celeridade dos processos.
E, eram apenas um escrivão e um escrevente de justiça!
Pode-se argumentar que, naquela época, eram poucos advogados e processos. É verdade!
Entretanto, tal argumento não se basta para justificar a mudança radical que estamos presenciando.
Hoje, a modernidade e a frieza do concreto e do mármore substituíram o calor, a história e a arquitetura romana do velho fórum. Afinal, os tempos são outros!
È tempo dos computadores, da internet do famoso “sistema”, e da vida moderna!
Ressalvando-se as exceções!
É tempo do sem tempo. É tempo que o juiz não tem pela sobrecarga de trabalho!
É tempo de filtragem em que os advogados quando precisam conversar pessoalmente, primeiro, tem que passar o assunto para os secretários (quebra de sigilo) para então terem, acesso aos juízes, isso quando conseguem! Por igual, com os Promotores de Justiça!
É tempo de secretarias “cheias” (mas, como se fala, ainda deficientes de pessoal) com Responsáveis, Substitutos e diversos Técnicos Judiciários e Auxiliares de Cartório.
É tempo de procurar um processo em um dia e no outro já não se saber a sua localização. Culpa do “sistema”! Claro!
É tempo ainda, pasmem! De se procurar trincheira atrás de pilhas de processos evitando o atendimento direto com os interessados e advogados! Ressalve-se é claro aquele que estiver no atendimento do “balcão”!
É tempo de serventuários mal humorados e aborrecidos com a carga de serviço e os parcos vencimentos que recebem, cumprindo, por cumprir o seu horário obrigatório de serviço!
Os processos e os advogados que se danem! As partes (coitadas!) nem se fala!
É claro que existem ainda, serventuários abnegados, responsáveis e cônscios dos seus deveres e obrigações e que levam ao pé da letra o significado do que é ser funcionário público na acepção da palavra.
Que estes, alguns em “final de carreira”, não se acomodem e consigam transferir para os demais, a experiência e ensinamentos de anos e anos de Judiciário, quer no zelo funcional, quer no tratamento cordial que deve prevalecer entre as partes e advogados e todos que de uma forma ou de outra freqüentam o dia a dia forense.
Só assim, voltaremos nós advogados, principalmente aqueles mais novos e que estão começando agora a termos, novamente, prazer em freqüentar, assiduamente o majestoso e moderno fórum novo, como profissionais indispensáveis à administração da justiça, prevalecendo à inviolabilidade dos seus atos e manifestações no exercício de sua profissão, tudo nos limites da lei.
Luís Carlos Manhães Rodrigues
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