A principal serventia dos atos administrativos secretos do Senado é a de evitar que as ofensas à moralidade cheguem ao conhecimento da opinião pública.
O segredo livra os senadores do constrangimento de frequentar o noticiário como protagonistas da pilhagem.
Hoje, já se sabe que as malfeitorias oceânicas do Senado incluem a edição de pelo menos cinco centenas de decisões sigilosas.
A descoberta do trambique produziu em Brasília um fenômeno semelhante ao que infelicitou os bancos e investidores que nadavam desprotegidos em meio à crise mundial.
Deve-se ao bilionário Warren Buffett a melhor definição da encrenca: "Quando a maré baixa é que você vê quem estava nadando nu".
Pois bem, o fluxo e refluxo das águas produziu no Senado a mais despida de todas as épocas. Uma fase ginecológica. Ou, por outra, uma era proctológica.
De todos os nus, o mais espatoso é o do presidente José Sarney (PMDB-AP). O senador foi pendurado nas manchetes em posições constrangedoras.
Primeiro, descobrira-se que um neto de Sarney, Fernando Michels Gonçalves Sarney, empregara-se no gabinete do aliado Epitácio Cafeteira (PTB-MA).
Ali permanecera, recebendo R$ 7,2 mil mensais à sombra, até que o STF decidiu dar um basta no flagelo do nepotismo.
Para evitar o escândalo, Fernando Sarney foi retirado da folha do Senado de fininho, por meio de um ato secreto.
Para que não houvesse dano à renda familiar, no lugar do neto entrou a mãe dele, Rosângela Terezinha Michels.
Trata-se de uma ex-candidata a miss Brasília, com quem Fernando Sarney, o filho do presidente, mantivera um namoro.
Instado a manifestar-se, Sarney disse que nada tinha a ver com o malfeito. Alegara que nem mesmo sabia que o Senado convivia com decisões secretas.
Descobre-se agora que, além do neto e da nora torta, também uma sobrinha de Sarney, Vera Portela Macieira Borges, ganhou contracheque da Viúva. Coisa de R$ 4,6 mil por mês.
Vera é filha de José Carlos de Pádua Macieira, irmão de Marly Sarney, mulher do presidente. Foi nomeada secretamente.
Oficialmente, está lotada na presidência do Senado. Dali, foi deslocada para o gabinete de Delcídio Amaral (PT-MS). Diz-se que dá expediente no Mato Grosso do Sul.
Os funcionários do escritório estadual de Delcídio afirmam que não conhecem Vera. O senador informa que deu emprego à sobrinha a pedido do tio ilustre.
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