Wadih Damous*
Precisamos proteger o que resta de Mata Atlântica nos nossos morros. Causa urgente e meritória, estamos de acordo. Para isso, vão cercar as favelas com paredões de três metros de altura e 11 quilômetros de extensão para que nenhuma construção irregular seja erguida fora dos limites. Ora, então é esta a solução que as autoridades encontraram?
Deve ser a mais barata, certamente. Talvez nos dê também (mesmo que não confessemos) percepção de segurança, ainda que ilusória. Afinal, "eles", os que moram nas favelas, ficarão mais invisíveis aos nossos olhos atemorizados e quem sabe não se espalhem tanto, não ameacem adentrar, ainda mais, nossas portas e janelas gradeadas, nosso ir e vir cada vez mais cauteloso diante de insegurança.
Mas há detalhe importante: estudo do Instituto Pereira Passos, órgão da prefeitura, revelou que em 69,7% das áreas ocupadas acima dos 100 metros de altitude nas encostas cariocas, as casas e mansões construídas são de classe média e alta! Mas, então, essa gente que estudou, é conscientizada, mora bem e tem carro é quem mais destrói o verde? Seus condomínios irregulares já devem estar devidamente cercados. O que será que o governo, para ser justo, vai fazer a respeito?
Senhores governantes, eleitos por pobres e ricos e remunerados com dinheiro público para administrar este Rio de desigualdades: que tal refletirem um pouco mais?
Políticas consistentes de habitação popular e transporte, conjugadas com a presença social do Estado, serão mais eficazes que meras barreiras para conter quem não tem onde morar ou dinheiro para pagar pelo ônibus até o trabalho e, por isso, sobe o morro em busca de um direito básico de qualquer cidadão.
*Wadih Damous é presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro.
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