lésio Corrêa
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Folha da Manhã – Como você vê a campanha neste momento, após a divulgação da pesquisa que aponta seu crescimento?
Odete Rocha – Nossa campanha é o diferencial, tanto pelo que apresenta de propostas, como pela forma como ela está sendo feita. Nós fomos capazes de fazer uma carreata, de aglutinar, em pleno sábado, sem disponibilizar nenhuma gota de combustível. Evidentemente, o tamanho de nossa carreata, diante deste detalhe, não foi de 300, de 500, mas foi uma carreata que, quando olhei, para trás, falei: “É carreata mesmo, eu não acredito”. Porque a gente mesmo fica na expectativa. É uma demonstração da resposta de quem realmente está nos apoiando, porque acredita neste projeto, porque confia neste projeto. Este é um projeto do PC do B, porque não tem outro partido em torno de nossa candidatura. Passou a ser um projeto de descontentes do PT. Hoje temos o Fábio Siqueira na nossa campanha, de outros partidos nós temos também, de setores da sociedade civil organizada, que estão vindo culminar na nossa campanha. É um projeto de construção que vem dar neste resultado. Embora a gente saiba que na rua se reflete muito mais do que esse 5%. Nós não distribuímos nada, além de um panfleto com as idéias de nossa proposta. Nós temos 300 plásticos, 200 dos quais foram cotizados por algumas pessoas. Cem foram doados por quem está na nossa campanha. Depois daquele resultado de 2%, eu chegou a minha casa, e a pessoa levou o carro de som. Nessa peculiaridade de grandes campanhas, de grandes investimentos, nós estamos bem posicionados. E nós sabemos que na política estar bem posicionado é fundamental para alguns resultados. Estamos utilizando televisão para fazer critica na política e sermos propositivos, nos nossos 2m10s.
Folha – Você acha que sua candidatura se encaminha para ser uma terceira via?
Odete – Eu não serei arrogante de dizer que nós estamos representando. Mas a nossa estratégia é de estar representando este setor e os demais, contribuindo, conseguindo a renovação do quadro político de Campos. E renovação passar por você estar colocando outras pessoas para estarem fazendo o debate, participando ativamente da vida política. Isso para nós tem que se dar no plano Executivo como também no Legislativo, porque está muito ruim a forma, a repetição. A repetição não é muito boa. Em uma área que posso falar porque é a minha, em uma escola, quando a gestão fica continuada, a escola vai emperrando, porque precisa ter novo diretor para oxigenar. Isso é em qualquer lugar. Nós sabemos que a nossa candidatura é a contribuição para a renovação do quadro político.
Folha — Sua candidatura representa um fato novo na campanha, e pela análise das pesquisas, a possibilidade da realização de um segundo turno em cenário de duas candidaturas que polarizam o processo. Você acha que vai estar no segundo turno e se não estiver, com se posicionaria no segundo turno?
Odete – Em primeiro lugar, a questão do primeiro turno já foi colocada de forma descartada, quando você aquela pesquisa feita antes, quando nos aponta com o menor índice de rejeição. Numa análise política mais fria, quem tem o menor índice de rejeição, tende a crescer mais, e ali apontava que haveria o segundo turno, e não essa pesquisa de agora. Essa pesquisa de agora só veio consolidar isso, quando nos continuamos a ter o menor índice de rejeição, porque baixamos esse índice. Primeiro, nós estamos no primeiro turno. Segundo, nós não nos consideramos uma candidatura de oposição. Nós somos uma candidatura de oposição. Então, nesta conjuntura. E algumas pessoas questionam: “Ah, vocês tiveram coligados com A, com B, com C anteriormente”. Ora, quem aqui, que já participou ativamente da vida política da cidade, também não votou em Garotinho, para fazer uma ruptura lá atrás? Quem não participou do movimento Muda Campos, que estava em um processo de avanço na cidade? Difícil dizer quem tinha vida ativa naquele momento, que fosse de centro-esquerda, que não tenha participado deste momento. Um bom comunista, um bom político, a primeira coisa que tem que fazer é entender a realidade em que ele vive e atuar dentro daquela realidade. E, no decorrer do tempo, um partido político não pode viver isolado, tem que procurar as suas alianças, até pela pluralidade que temos no Brasil. Não temos um regime de partido único, e até por isso nos permite transitar de acordo com a conjuntura. Essa conjuntura hoje, nos coloca em oposição hoje, a este momento. E nós somos oposição hoje sim a estas proposições que estão aí.
Folha – Isso se aplica ao grupo de Garotinho?
Odete – Neste caso sim, especificamente. Nós participamos de governos sim, porque não somos partidos únicos e não nos isolamos. Mas no governo Mocaiber nós não participamos, nem fomos para o palanque na eleição de Mocaiber. E tínhamos acertado naquele momento. Quando analisamos a possibilidade do desgaste, nós acertamos. Hoje não dá. Nós nos apresentamos como oposição, e como oposição, o mínimo que esta cidade tem que passar a ter, enquanto partido, é coerência. Se a nossa candidatura se apresenta como oposição ela tem que ser no mínimo coerente, conseqüente com o que ela fala. Se não, vamos cair na vala comum.
Folha – O que você quer dizer é que se for do desejo seu, estaria neutra em um segundo turno?
Odete – Desejo meu não. Não funciona assim. O nosso partido é um partido nacional, existe uma coisa que muita gente não gosta, mas está nele, que é o centralismo democrático. Eu sou a presidente, mas eu não mando no partido. Nós temos uma direção, nos reunimos, vamos discutir horas, horas e horas. Cada um coloca sua posição e a posição vencedora é a que há, a unidade na luta. Vai ser aquela que, mesmo eu tendo entendido o contrário, vou respeitar. É difícil é, mas essa é uma disciplina que só tem no partido comunista. Eu não sou representante de minha vontade.
Folha – Essa decisão sobre o segundo turno viria de cima para baixo?
Odete – Não, nós não trabalhamos assim. O diretório local vai fazer a análise da conjuntura local e vai tomar uma posição. E essa posição nós acataremos. Graças aos deuses do Olimpo lá não funciona assim.
Folha – Mas pode ser que não haja segundo turno...
Odete – Nós estamos trabalhando com a perspectiva do segundo turno. Até porque tem muita coisa para acontecer aí. Juridicamente, pela forma subjetiva como está sendo trabalhado o primeiro turno, há um subjetivismo sobre a estabilidade das outras candidaturas. E o povo, de forma subjetiva, mas que objetivamente vota na urna, ele trabalha com a seguinte coisa: eu não quero perder o meu voto. Estou dizendo que se está trabalhando para que as pessoas acreditem que mesmo diante dessas análises todas que nós fazemos, que A e B podem vencer, que estão trabalhando na possibilidade de primeiro turno, mas não comigo. Por mais que eu queira estar no segundo turno e ganhar as eleições, eu tenho os pés no chão. Eu tenho 20 anos de PC do B, já fiz todos cursinhos, não vou entrar em nenhum deslumbre, colocar salto alto e achar que vou ganhar no primeiro turno.
Folha – O que você quer dizer...
Odete – Estão trabalhando aí na rua, vou ser bem transparente, que Rosinha já ganhou no primeiro turno. E estão botando isso nas cabeças das pessoas. E é isso? Não. Aí eu pergunto, a candidatura que tem capital estrutural, no mesmo porte da Rosinha, de Arnaldo, não falo de capital político. Porque quem tem capital político é a nossa, mas não tem o outro. O que a gente vê? Arnaldo vai deixar isso correr solto? É pergunta que se faz.Vocês foram às ruas hoje (na quinta-feira)? Você viu o exército do 15? Está me lembrando aquela eleição lá atrás. Tem gente do 12? Tem, mas não na mesma proporção. Aí eu me pergunto, como não tenho essas respostas na mão, eu pergunto: o 12 vai deixar que esse exército trabalhe livremente? Essa disputa é uma coisa.
Folha – O quadro ainda não está fechado...
Odete – É todo muito indeciso ainda, porque tem todo esse leque de coisas acontecendo, fora aquilo que não sabemos dos interesses. Que passa pela questão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Veio do TSE para cá, está voltando para o TSE. Mas, o que existe neste tabuleiro? Até porque estas eleições estão sendo confeccionadas para a eleição de 2010. Um bom articulador que pensa a política não pelo seu umbigo, pelo seu quadrado, como diz meu filho, ele está pensando na coisa maior. Essas eleições agora não vão ser especificamente eleições para eleger vereadores e prefeitos de suas cidades. Tem amplitude muito maior. Tem um PDT querendo se reestruturar no Estado, por sua vez tem o PMDB que faz a mesma coisa. Tem o PT, que é como as pessoas vêem a esquerda no Estado do Rio, ela não se firma, e precisa se firmar. A eleição de Campos não é pouca coisa. As Forças Armadas estão vindo para cá por quê?
Folha – Você acha que a candidatura de Garotinho em 2010 passa pela eleição de Rosinha em Campos?
Odete – Eu penso que não só a de Garotinho, mas todos aqueles que pensam em serem candidatos em 2010 eles precisam de serem consolidados. Eu trabalho muito com uma vi-são de partido. Um partido mais estruturado nacionalmente, evidentemente, em cidades mais importantes, ele estará muito mais perto de uma vitória, do que um partido menos estruturado. O nosso nono congresso deliberou que nós teríamos candidatura própria em todas cidades onde fosse possível, com nominatas próprias. Isso é tática para atingirmos nossa estratégia para o controle do país. Nós queremos governar o país, e para isso temos que ter pessoas em vários lugares que representem nossas idéias.
Folha – Você chegou a costurar alianças em torno da proposta da terceira via neste pleito. Em que momento foi construída a candidatura sua e a do partido, já que em pleitos anteriores a posição sempre foi aliancista?
Odete – Primeiro, por orientação do nono congresso do partido pelo lançamento de candidatura própria. A candidatura não é de Odete, não é da Jandira, não é da Jô Morais, de Minas, é da orientação do partido. Nós fomos construir essa orientação, para ver até onde ia dar certo ou não. Nenhum partido gosta de ficar sozinho. Além de ser uma questão humanamente, já aceita por todos nós, somos seres que vivemos coletivamente. Já que o partido é feito de pessoas, procuramos outros partidos para montarmos uma aliança, nessa terceira via. Por isso chamamos de bloquinho, reprodução do bloco que existe no Congresso Nacional. Conversamos com o PRTB, com o PHS, com o PT.
Folha – A composição não chegou em bom termo porque o partido queria ser cabeça de chapa? Ou o partido chegou a pensar em compor como vice?
Odete – Sim, junto com o PT. Para avançar no projeto de renovação do quadro político. Nós não somos egoístas, estamos pensando no coletivo. Para avançar num projeto de renovação do quadro político, de um novo caminho para Campos, porque nós iríamos ficar batendo pé e atrasar o projeto? É por isso que a gente acredita que dê certo, porque o projeto não é da professora Odete. Não foi professora Odete, ele é um projeto que vai além do PC do B, que vai muito mais além ainda da professora Odete. O que tem ficar que é que tem uma possibilidade de renovação, de construção, que passa por propostas diferenciadas. De mostrar que a cidade não é bipolarizada. E na política é isso. Um bom projeto se aglutina. Se estivéssemos numa visão estreita, voltada apenas para o pessoal, para o PC do B, essas pessoas não estariam vindo. Nós incorporamos o desejo de muitas pessoas e não estreitamos na política. Nós ampliamos na política.
Folha — A senhora realmente tem sido o fato novo nessa eleição?
Odete — Sim, mas só não gosto de uma coisa: “eu não tenho opção, vou votar em você”. Isso é uma contradição. Tem opção sim. Tem a opção de Odete. A cabeça das pessoas está muito polarizada. Não existe somente A ou B. E é aí que está o subjetivismo. As pessoas podem não falar isso, mas este é o sentimento que existia nas pessoas.
Folha — A senhora, de certa forma, repete hoje Dr. Makhoul (Moussalem) em 2004. Acha que isso significa que, mesmo com essa bipolarização, a população de Campos tem está demonstrando um desejo de mudança, mas por um nome que nunca esteve no cargo? E mais, a senhora acha então que a candidatura PT/PC do B era viável?
Odete — Sim. Primeiro nós temos que tirar do eleitor essa idéia messiânica de que vai haver uma solução, que vá salvar tudo. Primeiro porque nós não acreditamos nisso. Segundo porque não acredito em nada fora de uma construção. Nós estamos construindo um caminho, este caminho é possível, existe um desejo deste caminho. Ele pode ser configurado agora? Já falei: Não sabemos. Nós queremos, mas está muito distante o que nós queremos do que vai acontecer. Mas uma coisa é fato: deixa a certeza de que existe esse desejo. As pessoas precisam entender que, por nossas poucas pernas, se tivéssemos mais carros de som, placas — estamos com placas no Rio sem ter como trazer para cá — teríamos mais visibilidade. O desejo existe, na minha concepção. Mesmo quem espera o saco de cimento, o vale-cidadão de R$ 100, deseja mudança, mas ele não conseguiu, ainda, que isso é possível, porque a disputa tem sido desigual. Se a disputa fosse igual no sentido estrutural, as pessoas iriam enxergar de outra forma. Se trabalha que vai haver um turno e não sei como isso vai ficar na cabeça das pessoas e se trabalha também que existe essa bi-polaridade. Já fui a alguns lugares em que as pessoas achavam que só havia duas candidaturas.
Folha — A senhora acha que, em um determinado momento, as forças partidárias vão se juntar para formar essa terceira via?
Odete — Acho que sim... Nos reportamos ao bom e velho Lênin: às vezes para avançar é preciso recuar. Todo esse processo precisa e está sendo construído em Campos.
FONTE- FOLHA DA MANHÃ.
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